O Relógio do Pai

Há dias estive a ver o último Indiana Jones (a ver como quem diz, vi um bocado, que aquilo já não acrescenta nada aos outros 450 anteriores), daquilo que vi só me ficou na memória uma cena, a que vai ilustrada nas duas imagens - o indiana jones ficou furioso pq um puto roubou-lhe o relógio, não pelo relógio em si, mas pq tinha sido do pai dele!

Pois, não sei qual a explicação a nível psicológico, mas um relógio é mais que um objecto, é algo que simboliza a transmissão de poder entre gerações, um sinal de emancipação, não sei, se houver por aí algum "aficionado" à relojoaria que seja psicólogo de profissão que explique o fenómeno e o que representa no imaginário masculino (seria interessante)

Sempre tive um fascínio pelo Cauny do meu pai, tanto fascínio que até já lhe "deitei a unha" apesar daquilo não valer 30 paus!

Uma coisa vos digo, os chaços de quartz, os alimentados a energia solar e outras tecnologias do género não transitam entre gerações, não chegam a ver os netos, enquanto um 100% mecânico daqui a 300 anos ainda está pronto para as curvas podendo facilmente ser reposta uma peça em falta (com os scanners 3D e impressoras 3D daqui a uns anos conseguimos produzir as peças em casa). O relógio mecânico é o único que podeis oferecer aos filhos, e os filhos aos filhos deles, e por aí fora, Só isto justifica a mais valia de um mecânico para uma sucata de quartz! Quereis ficar imortais na linhagem familiar? Comprai mecânicos que possam passar para os filhos que os filhos tratarão de o eternizar!

Aqui seguem as fotos que despoletaram a minha epifania freudiana

Concordo contigo @VS no entanto existem Quartzos que também passam de geração em geração, o meu primeiro relógio foi um Seiko quartzo, ainda o tenho e funciona perfeitamente, é dos anos 80 mas continua a funcionar sem problemas, se fosse caso dos meus filhos ligarem a relógios, que não ligam, poderia passar para eles e quem sabe para os filhos deles, agora que é uma sorte é, e não tem a magia de um mecânico.

@Duca749, década de 80 ainda é um menino, a ideia é a longo prazo. Daqui a 50 anos qd já não funcionar, tenta arranjar peças. O quartzo até pode funcionar, a parte electrónica/digital é que ninguém a vai reparar pq ninguém sabe o quem lá dentro.

Pois é verdade, mas acredito que pelo menos o meu ainda vá durar muitos anos, quase não é usado e anda sempre vigiado no que a bateria diz respeito.
Conheci em tempos num fórum estrangeiro um tipo que tinha um Seiko Astron, o primeiro relógio quartzo, na altura e já foi á uns anos o relógio era usado quase diariamente e funcionava em pleno, lembro-me de ele referir que a única chatice era quando tinha que mudar a bateria, tinha que encomendar não sei de onde pq aquilo tinha uma voltagem ou amperagem própria que não era compatível com as baterias mais recentes e podia dar cabo do relógio, acho que as máquinas mais antigas eram feitas para durar, mas realmente nada bate um mecânico em termos de longevidade.

Ainda há coisa de 2 anos fiz um investimento significativo a reparar o Tissot Navigator do meu pai, que tem mais de 50 anos (o relógio, o meu pai já vai a caminho dos 70 ). Gastei bem mais que o valor do relógio no mercado.

É um daqueles cronógrafos de corda manual, com um Valjoux 7733 (salvo erro). O meu pai não liga muito a relógios, mas toda a vida o vi usar aquele, que já estava num estado lastimável. Com a ajuda do amigo @Girão, aqui do fórum, ficou num brinquinho e tive o maior gosto do mundo em oferecer-lhe um relógio que já era dele.

Ele já mo queria dar a mim logo naquele dia, mas eu disse-lhe que ele já estava reservado, mas esperava só o ir buscar daqui a muitos e bons anos.

Isto para dizer que concordo totalmente com o caráter perene dos relógios e da sua transmissibilidade entre gerações. Quanto ao serem mecânicos ou quartzo, isso já são outros quinhentos e não quero comprar quezílias com o @VS

Da mesma fora que hoje o rápido desenvolvimento das impressoras 3D para todos os tipos de materiais, permitem milagres e até fabricar qualquer peça mecânica de qualquer época (recuperando mito artigo vintage), igualmente tem crescido cada vez uma indústria de "electronica de obsoletos" que acredito vai ter futuro e permitir no futuro termos componentes do passado e de tecnologias obsoletas sem problema... É tudo uma questão de haver mercado e procura.

P.S: Não esqueçam que no final dos 70 com os quartzos a bombar, baratos, grande precisão ninguém em seu perfeito juízo acreditava ou investia em relógios mecânicos. Passadas umas décadas, o relógio mecânico ainda subiu mais o estatuto que tinha e continua a haver espaço para todas as tecnologias. Ser empreendedor tem um pouco de genialidade, mas muito mais da sorte de estar no lugar certo no tempo certo.

@bladerunner68, concordo contigo na generalidade, o problema real é que, salvo raras exceções, não estou a ver o mercado da "memória afectiva" com força ou interesse suficiente para reavivar tecnologia que nunca prendeu ninguém pelo lado emocional ou financeiro. Obviamente que os primeiros 100 astrons não estão nessa categoria, quer pelo valor simbólico quer pelo valor financeiro, esses, mesmo daqui a 500 anos vão funcionar, mesmo que não haja peças há interesse financeiro para investir e fazer novas peças que colmatem o problema.

Além dos astrons, haverá interesse nos primeiros casios, g-shocks e pouco mais. Isto é uma questão fé, mas parece-me que o quartzo acompanha a informática, há algum interesse no oldware mas é residual, sem mercado, o que resta e que é preciso meter a funcionar vai para museus, o custo de ressuscitar não justifica o investimento (pelo menos para o grande público)

Sim...tenho relógios que foram do meu pai...um deles impossível de restaurar...mas está lá.
Aliás, também tenho um Omega de bolso que foi do meu Avô...que era fã dos Cortebert...de bolso claro!
Ahhh e também tenho os que foram da minha mãe...um mini Cauny...e um Timex...que saiu nas seleções.

Quanto a deixar para os filhos, no meu caso, terão de tudo para poder escolher.

Concordo na questão do mecânico/quartzo nesse aspeto, a longevidade da coisa. O mecânico tem sempre outra "alma", interesse e durabilidade, claro.

Embora, como foi dito, haja quartzos que duram muitos anos, a verdade é que nunca duram 100 ou mais anos como um mecânico bem mantido. O quartzo não foi criado a pensar na longevidade, mas sim na alta precisão e no baixo preço de aquisição e manutenção.

Mas a questão aqui passa pelo interesse que os jovens (não) têm em relógios "a sério". Para eles, relógios são objetos descartáveis que se usa 1 ou 2 anos e depois compra-se outro "da moda", sejam "smart" ou "dumb" watches

Daí que esta questão não seja mto importante para a esmagadora maioria dos consumidores. Nós, "apreciadores", somos um nicho muito pequenito do mercado.

E é pena porque, enquanto "antigamente" se deixava um Rolex, um Cauny ou um cordão de ouro aos filhos e estes aos seus filhos, hoje não se deixa nada porque se gastou o valor que iria para esses objetos duradouros em smartphones e smartwatches fabricados na China e que duram poucos anos.

Nunogoncalves escreveu:Ainda há coisa de 2 anos fiz um investimento significativo a reparar o Tissot Navigator do meu pai, que tem mais de 50 anos (o relógio, o meu pai já vai a caminho dos 70 ). Gastei bem mais que o valor do relógio no mercado.

É um daqueles cronógrafos de corda manual, com um Valjoux 7733 (salvo erro). O meu pai não liga muito a relógios, mas toda a vida o vi usar aquele, que já estava num estado lastimável. Com a ajuda do amigo @Girão, aqui do fórum, ficou num brinquinho e tive o maior gosto do mundo em oferecer-lhe um relógio que já era dele.

Ele já mo queria dar a mim logo naquele dia, mas eu disse-lhe que ele já estava reservado, mas esperava só o ir buscar daqui a muitos e bons anos.

Isto para dizer que concordo totalmente com o caráter perene dos relógios e da sua transmissibilidade entre gerações. Quanto ao serem mecânicos ou quartzo, isso já são outros quinhentos e não quero comprar quezílias com o @VS

Lembro-me bem @Nunogoncalves, ficou um bichinho bem bonito, sim!

Que continues sem ele por muitos e bons anos! 

Eu também tenho muito relógio para deixar ao meu filho e habituei-o a gostar também de quartzo! E ele já tem muitos!

Já quanto à minha filha, eu deserdei-a de relógios, depois de ela ter recusado um Seiko dos anos 50 que eu lhe queria dar, muito antigo, em ótimo estado e bonito, e foi comprar no dia seguinte um relógio na Parfois, por 30 euros! 

E fizeste muito bem! Na primeira oportunidade ela passava tudo para patacas

Duca749 escreveu:E fizeste muito bem! Na primeira oportunidade ela passava tudo para patacas

Isso ela não fazia, coitadinha!   Mas, quem troca uma beleza de um vintage por um pedaço de plástico da marca "Parfois" - acessórios para meninas e senhoras - não merece que eu lhe dê relógios!