Gruen cal. 716 – "Morrer é cair no esquecimento"
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Duca749
Tempus fugit
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Gruen cal. 716 – "Morrer é cair no esquecimento"
Qua 27 maio 2020, 19:49
Como algures foi sabiamente dito "enquanto se lembrarem de mim permanecerei vivo".
Ao contrário dos animais, onde a dissociação biológica representa inevitavelmente o fim da vida, a aniquilação do ser, para nós, humanos, a morte pode representar o início de uma nova maneira de "viver".
O Homem tem a possibilidade de viver eternamente, não somente através da imortalidade espiritual, como defendem os crentes, mas por outra via, a da memória.
Embora não seja uma verdadeira forma de superar a morte física, a imortalidade alcançada pela memória, tem sido deste tempos imemoráveis, objecto de fascínio e de demanda para a humanidade.
Que o digam Gilgamesh, que na impossibilidade de se tornar imortal como os deuses, procurou alcançar a perenidade através da fama dos seus feitos, que continuam a ser relembrados mais de 9 mil anos depois de terem sido compilados. Ou Aquiles, semi-deus, que somente luta na Guerra de Tróia pois busca reconhecimento e fama eternos, e muitos, muitos outros.
É este o objecto deste tópico, um nome gravado num relógio, o resgate de uma memória, o "ressuscitar" de alguém que há muito poderia já estar esquecido para o mundo.
Ao contrário dos animais, onde a dissociação biológica representa inevitavelmente o fim da vida, a aniquilação do ser, para nós, humanos, a morte pode representar o início de uma nova maneira de "viver".
O Homem tem a possibilidade de viver eternamente, não somente através da imortalidade espiritual, como defendem os crentes, mas por outra via, a da memória.
Embora não seja uma verdadeira forma de superar a morte física, a imortalidade alcançada pela memória, tem sido deste tempos imemoráveis, objecto de fascínio e de demanda para a humanidade.
Que o digam Gilgamesh, que na impossibilidade de se tornar imortal como os deuses, procurou alcançar a perenidade através da fama dos seus feitos, que continuam a ser relembrados mais de 9 mil anos depois de terem sido compilados. Ou Aquiles, semi-deus, que somente luta na Guerra de Tróia pois busca reconhecimento e fama eternos, e muitos, muitos outros.
"O nome, e, em particular, o nome que fica escrito, sobrevive ao corpo."
É este o objecto deste tópico, um nome gravado num relógio, o resgate de uma memória, o "ressuscitar" de alguém que há muito poderia já estar esquecido para o mundo.
FIM DA PRIMEIRA PARTE
(continua)
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Re: Gruen cal. 716 – "Morrer é cair no esquecimento"
Qua 27 maio 2020, 20:24
Andava eu há umas semanas à "caça" quando encontrei este anúncio:
Mas neste caso era diferente e mais interessante, pois tinha o nome de um lugar (OZAUKEE COUNTRY CLUB), de uma pessoa (DR. J.P.CARMICHAEL) e uma data (1930).
Embora esteticamente não estivesse mau, o relógio não tinha coroa e não havia garantias que só faltasse isso. Por isso segui em frente e continuei à "caça".
Mas como gosto de História, de um bom enigma e ainda por mais, sendo um autodidacta e autoproclamado genealogista amador , não podia deixar passar esta promissora fonte de divertimento em tempos de isolamento social. Assim no dia seguinte voltei a procurar o anúncio.
Fui então investigar o que seria e onde ficaria o tal OZAUKEE COUNTRY CLUB.
Descobri que é um clube de campo privado norte-americano no condado de Ozaukee no estado do Wisconsin, no MidWest dos Estados Unidos, junto aos Grandes Lagos.
O clube foi inaugurado em Julho de 1922, sendo famoso pelos seus torneios de golfe e "greens" impecáveis.
Teve o seu ponto alto em 1929, quando nele se disputou o Western Open. À data da sua última edição (2006) o terceiro mais antigo torneio de golf profissional dos E.U.A.
Mas o que seria o J.P.?
Seria James Patrick, Jeremiah Percy, John Pierpont, etc.?
Quando se faz genealogia na América, a primeira e mais acessível fonte de consulta são os censos federais. Então lá fui eu atrás dos censos de 1930 para o estado do Wisconsin, à procura de um Carmichael, que fosse J.P. e médico.
E lá estava ele JOHN P. CARMICHAEL, na altura ainda não sabia o significado do P.
"1930's GRUEN GUILD 10s 15j POCKET WATCH 716, NR, Engraved case"
Não era nada do que eu procurava, mas a curiosidade deu-me para ir espreitar o que estaria gravado na traseira do relógio.
E o que lá estava era isto:
Achei interessante, pois geralmente surgem coisas simples neste tipo de inscrições, algo do tipo:
- "em sinal de reconhecimento pelos 25 anos de carreira";
- "parabéns pelo teu 18.º aniversário";
- um simples conjunto de abreviaturas ou monograma, etc.
Mas neste caso era diferente e mais interessante, pois tinha o nome de um lugar (OZAUKEE COUNTRY CLUB), de uma pessoa (DR. J.P.CARMICHAEL) e uma data (1930).
Embora esteticamente não estivesse mau, o relógio não tinha coroa e não havia garantias que só faltasse isso. Por isso segui em frente e continuei à "caça".
Mas como gosto de História, de um bom enigma e ainda por mais, sendo um autodidacta e autoproclamado genealogista amador , não podia deixar passar esta promissora fonte de divertimento em tempos de isolamento social. Assim no dia seguinte voltei a procurar o anúncio.
Fui então investigar o que seria e onde ficaria o tal OZAUKEE COUNTRY CLUB.
Descobri que é um clube de campo privado norte-americano no condado de Ozaukee no estado do Wisconsin, no MidWest dos Estados Unidos, junto aos Grandes Lagos.
O clube foi inaugurado em Julho de 1922, sendo famoso pelos seus torneios de golfe e "greens" impecáveis.
Teve o seu ponto alto em 1929, quando nele se disputou o Western Open. À data da sua última edição (2006) o terceiro mais antigo torneio de golf profissional dos E.U.A.
Pude assim depreender que o DIRECTOR'S TROPHY seria muito provavelmente um troféu ligado ao golf amador. A título de curiosidade o clube contava com 289 associados, quando o relógio foi ofertado em 1930. Eram os duros resistentes do crash da bolsa de 1929.
A esta altura tinha já como dados:
- o nome de um estado (Wisconsin);
- uma data (1930);
- e sabia que J.P. Carmichael era médico, pois tinha o prefixo DR. antes do nome.
Mas o que seria o J.P.?
Seria James Patrick, Jeremiah Percy, John Pierpont, etc.?
Quando se faz genealogia na América, a primeira e mais acessível fonte de consulta são os censos federais. Então lá fui eu atrás dos censos de 1930 para o estado do Wisconsin, à procura de um Carmichael, que fosse J.P. e médico.
E lá estava ele JOHN P. CARMICHAEL, na altura ainda não sabia o significado do P.
Morador no n.º 2107 da West Juneau Avenue em Milwaukee, cidade do estado do Wisconsin. Morava numa zona da cidade maioritariamente ocupada por habitações unifamiliares, com jardim à volta da casa e a cerca de 10 min. do centro da cidade.
J.P. CARMICHAEL era viúvo, branco, de 73 anos de idade, natural do estado do Illinois, dentista (daí vinha o título de doutor), com negócio próprio. Vivia numa casa avaliada em 18 mil dólares (269 mil dólares actuais), a mais cara do quarteirão. Vivia com duas inquilinas. E pelos vistos era também um bom jogador de golf, pelo menos na categoria super sénior .
A partir daqui e graças às novas tecnologias, foi uma caça aos documentos e um desenrolar do novelo sem sair de casa.
FIM DA SEGUNDA PARTE
(continua)
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Re: Gruen cal. 716 – "Morrer é cair no esquecimento"
Qua 27 maio 2020, 21:00
Não nos deixes neste suspense!!
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Re: Gruen cal. 716 – "Morrer é cair no esquecimento"
Qui 28 maio 2020, 06:07
Tempus fugit escreveu:Não nos deixes neste suspense!!
E eu a pensar que era o único a ter pachorra para ler tópicos grandes
Ainda faltam uns 3 capítulos, vou ver se coloco tudo a tempo do fim-de-semana.
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Re: Gruen cal. 716 – "Morrer é cair no esquecimento"
Qui 28 maio 2020, 07:57
J. P. Carmichael nasceu a 28 de Maio de 1856 em New Millford, condado de Winnebago, estado do Illinois.
O estado do Illinois fica mesmo a baixo do estado do Wisconsin.
Era o 11.º de 13 filhos, de John Peter Carmichael, natural do estado de Nova York e de Mary Rockingham natural de Buckinghamshire, Inglaterra.
Herdou o nome do pai, que por seu lado viu o seu nome resultar da união do nome do seu progenitor (Peter Carmichael) com o do seu avô John Carmichael, natural de Glasgow, na Escócia.
O pai de John Peter Carmichael era agricultor, numa pequena comunidade (199 hab. em 1880) chamada New Millford, situada nos arredores da cidade de Rockford, no Illinois. Segundo os censos de 1860, o património da família estaria avaliado em 9150 dólares em bens imóveis e 1150 dólares em bens móveis.
Mapa da comunidade de New Millford e propriedade dos Carmichael em 1859.
J. P. Carmichael formou-se na Escola de Medicina Dentária da Universidade do Michigan (University of Michigan School of Dentistry) em 1880. Em 1875 esta instituição tinha criado um curso específico para dentistas, tendo sido a primeira universidade pública do mundo a fazê-lo.
Um dos colegas de curso de J.P. Carmichael foi a senhorita Alma (ou Anna) Füllgraff. A primeira mulher dentista formada por esta universidade e uma das primeiras a nível mundial.
Foto do curso de medicina dentária de 1880. Infelizmente o fotografo não colocou uma legenda apropriada na imagem, só consegui identificar Mrs Alma Füllgraff e o prof. Dorrance (de óculos) - para aumentar a imagem clicar com o botão direito na imagem e escolher a opção ver imagem.
Após a morte do pai, a 11 de Maio de 1870, John Peter Carmichael abandona Millford e muda-se para a cidade grande. Em 1880, então com 24 anos e já dentista, torna-se o homem da casa, morando com a mãe e mais 3 irmãs no número 810 da 1st Avenue, na cidade de Rockford, no Illinois.
Mapa da cidade de Rockford em 1880 e localização da 1st Avenue onde moravam Carmichael e a família.
Caso fosse um homem religioso, Carmichael certamente teria frequentado a First Congregational Church situada no topo da avenida. Foto de 1887.
No ano seguinte, 1881, casa-se com Ella Leonard Shan, natural de St. Paul do estado do Minnesota. A boda realizou-se a 26 de Outubro na cidade de Milwaukee, no estado do Wisconsin. E tudo indica que o Dr. Carmichael passou a morar nesta cidade.
A 8 de Agosto de 1882, nasce o seu único filho, George Jones Carmichael.
A 26 de Fevereiro de 1883 morre sua mãe, Mary Rockingham.
Em 1886, juntamente com o associado dr. Cudworth, teria um consultório no 441 da Milwaulee street, na cidade de Milwaukee.
Segundo o directório das elites de Milwaukee de 1890-1891 (Directory of Milwaukee Elite 1890-1981), J.P. Carmichael e a família moravam por essa altura no 1229 da Wells street, uma das principais ruas da cidade.
Câmara municipal de Milwaukee. Concluída em 1895, permaneceu o edifício mais alto da cidade até 1973. Entre 1929 e 1940, 7 pessoas usaram a sua torre para cometer suicídio.
Em termos profissionais e académicos tudo indica que o Dr. J.P. Carmichael gozou de grande reputação, e alguma inveja, entre os pares.
No catálogo do Dental Register of the United States and Canada de 1893, apenas 13 anos após completar o curso, surge já como membro da mesa de examinadores de medicina dentária do estado do Wisconsin.
E no livro Who's Who in Dentistry - Biographical Sketches of Prominent Dentists in the United States and Canada de 1916, é-nos apresentado como um importante inventor na área de medicina dentária.
Uma pesquisa nos arquivos da Agência de Patentes e Marcas dos Estados Unidos, permite descobrir ainda mais invenções pós 1916, tais como: uma embalagem para pasta de dentes (1925), um novo tipo de palito (1926), um método de selagem dos canais das raízes de um dente podre (1927), etc.
Algumas das sua patentes foram mesmo vendidas a grandes companhias mundiais ligadas à área dentária, como a S.S. White Dental Manufacturing Company, fundada em 1844 e actualmente ainda no activo, entre outras.
Dental Summary 1911
Publicava assiduamente artigos em várias revistas cientificas norte americanas, dava palestras e cursos de pós-graduação, tanto no seu consultório como em diversas cidades do país, onde os instruendos aprendiam a aplicar as novas técnicas desenvolvidas por ele.
Nos censos de 1900, o Dr. Carmichael, sua mulher Ella e seu filho George, encontram-se registados como morando no n.º 2102 da Chestnust Street (em 1926 rebaptizada de West Juneau Avenue).
Continuam a viver em Milwaukee, mas desta vez numa zona tipicamente residencial e mais calma da cidade. Tinha casa própria, a mesma onde vivia nos censos de 1930.
A 8 de Junho de 1914, há um registo de um pedido de passaporte em nome de J.P. Carmichael. Não se percebe muito bem a letra do funcionário e por isso não se sabe quanto tempo permaneceu no estrangeiro.
(para aumentar imagem - clicar com o botão direito do rato sobre a imagem, escolher ver imagem)
Através do passaporte ficamos a saber que o doutor J.P.C. tinha:
A sua assinatura
O Dental Register and Directory of the United States and Canada, de 1917, fornece-nos mais algumas informações curiosas, como o horário de funcionamento do seu consultório, situado no edifício Wells e o n.º de telefone.
O seu consultório situava-se no Wells Building, onde funcionavam vários escritórios e outros serviços. o edifício foi construído em 1902 por um dos maiores magnatas de Milwaukee, Daniel Wells. Era considerado um edifício de vanguarda para a época, bastante moderno e qualificado.
Wells Building
A 18 de Maio de 1925, com 69 anos de idade, morre Ella Leonard Shaw, sua esposa.
Após 50 anos a exercer medicina dentária, o Dr. J.P.C. reforma-se e em 1931 muda-se para Los Angeles, California. Quem sabe, para aproveitar o sol, o calor e as praias do Golden State. Entretanto conhece Ann Fraser Webb, natural de Charlottesville, da Vírginia.
A 27 de Abril de 1936, com 79 anos, casa-se com Ann F. Webb de 48 anos. Os censos de 1940 indicam-nos que moravam no n.º 1526 na 6th Avenue, em Los Angeles.
A 14 de Outubro de 1946, pelas 13h. e 40 min., John Peter Carmichael falece com 90 anos de idade. Um dia após ter dado entrada no Sun Ray Sanatorium, em Los Angeles.
Segundo a certidão de óbito faleceu de complicações causadas pela diabetes.
Quatro dias depois seria cremado no Pierce Brothers Crematorium, em los Angeles
Ann. F. Webb falece 8 anos mais tarde.
A revista dos alunos da Universidade do Michigan (The Michigan Alumnus) fornece-nos o derradeiro documento que faltava, uma foto identificativa e um facto curioso. O Dr. John Peter Carmichael foi pioneiro no uso da anestesia dentária local, foi ele que veio pôr fim a séculos de sofrimento.
Um grande bem-haja Dr. Carmichael
O estado do Illinois fica mesmo a baixo do estado do Wisconsin.
Era o 11.º de 13 filhos, de John Peter Carmichael, natural do estado de Nova York e de Mary Rockingham natural de Buckinghamshire, Inglaterra.
Herdou o nome do pai, que por seu lado viu o seu nome resultar da união do nome do seu progenitor (Peter Carmichael) com o do seu avô John Carmichael, natural de Glasgow, na Escócia.
O pai de John Peter Carmichael era agricultor, numa pequena comunidade (199 hab. em 1880) chamada New Millford, situada nos arredores da cidade de Rockford, no Illinois. Segundo os censos de 1860, o património da família estaria avaliado em 9150 dólares em bens imóveis e 1150 dólares em bens móveis.
Mapa da comunidade de New Millford e propriedade dos Carmichael em 1859.
J. P. Carmichael formou-se na Escola de Medicina Dentária da Universidade do Michigan (University of Michigan School of Dentistry) em 1880. Em 1875 esta instituição tinha criado um curso específico para dentistas, tendo sido a primeira universidade pública do mundo a fazê-lo.
Um dos colegas de curso de J.P. Carmichael foi a senhorita Alma (ou Anna) Füllgraff. A primeira mulher dentista formada por esta universidade e uma das primeiras a nível mundial.
Foto do curso de medicina dentária de 1880. Infelizmente o fotografo não colocou uma legenda apropriada na imagem, só consegui identificar Mrs Alma Füllgraff e o prof. Dorrance (de óculos) - para aumentar a imagem clicar com o botão direito na imagem e escolher a opção ver imagem.
Após a morte do pai, a 11 de Maio de 1870, John Peter Carmichael abandona Millford e muda-se para a cidade grande. Em 1880, então com 24 anos e já dentista, torna-se o homem da casa, morando com a mãe e mais 3 irmãs no número 810 da 1st Avenue, na cidade de Rockford, no Illinois.
Mapa da cidade de Rockford em 1880 e localização da 1st Avenue onde moravam Carmichael e a família.
Caso fosse um homem religioso, Carmichael certamente teria frequentado a First Congregational Church situada no topo da avenida. Foto de 1887.
No ano seguinte, 1881, casa-se com Ella Leonard Shan, natural de St. Paul do estado do Minnesota. A boda realizou-se a 26 de Outubro na cidade de Milwaukee, no estado do Wisconsin. E tudo indica que o Dr. Carmichael passou a morar nesta cidade.
A 8 de Agosto de 1882, nasce o seu único filho, George Jones Carmichael.
A 26 de Fevereiro de 1883 morre sua mãe, Mary Rockingham.
Em 1886, juntamente com o associado dr. Cudworth, teria um consultório no 441 da Milwaulee street, na cidade de Milwaukee.
Segundo o directório das elites de Milwaukee de 1890-1891 (Directory of Milwaukee Elite 1890-1981), J.P. Carmichael e a família moravam por essa altura no 1229 da Wells street, uma das principais ruas da cidade.
Câmara municipal de Milwaukee. Concluída em 1895, permaneceu o edifício mais alto da cidade até 1973. Entre 1929 e 1940, 7 pessoas usaram a sua torre para cometer suicídio.
Em termos profissionais e académicos tudo indica que o Dr. J.P. Carmichael gozou de grande reputação, e alguma inveja, entre os pares.
No catálogo do Dental Register of the United States and Canada de 1893, apenas 13 anos após completar o curso, surge já como membro da mesa de examinadores de medicina dentária do estado do Wisconsin.
E no livro Who's Who in Dentistry - Biographical Sketches of Prominent Dentists in the United States and Canada de 1916, é-nos apresentado como um importante inventor na área de medicina dentária.
Uma pesquisa nos arquivos da Agência de Patentes e Marcas dos Estados Unidos, permite descobrir ainda mais invenções pós 1916, tais como: uma embalagem para pasta de dentes (1925), um novo tipo de palito (1926), um método de selagem dos canais das raízes de um dente podre (1927), etc.
Algumas das sua patentes foram mesmo vendidas a grandes companhias mundiais ligadas à área dentária, como a S.S. White Dental Manufacturing Company, fundada em 1844 e actualmente ainda no activo, entre outras.
Dental Summary 1911
Publicava assiduamente artigos em várias revistas cientificas norte americanas, dava palestras e cursos de pós-graduação, tanto no seu consultório como em diversas cidades do país, onde os instruendos aprendiam a aplicar as novas técnicas desenvolvidas por ele.
Nos censos de 1900, o Dr. Carmichael, sua mulher Ella e seu filho George, encontram-se registados como morando no n.º 2102 da Chestnust Street (em 1926 rebaptizada de West Juneau Avenue).
Continuam a viver em Milwaukee, mas desta vez numa zona tipicamente residencial e mais calma da cidade. Tinha casa própria, a mesma onde vivia nos censos de 1930.
A 8 de Junho de 1914, há um registo de um pedido de passaporte em nome de J.P. Carmichael. Não se percebe muito bem a letra do funcionário e por isso não se sabe quanto tempo permaneceu no estrangeiro.
(para aumentar imagem - clicar com o botão direito do rato sobre a imagem, escolher ver imagem)
Através do passaporte ficamos a saber que o doutor J.P.C. tinha:
- cerca de 1m e 77cm;
- testa alta;
- boca pequena;
- queixo proporcional;
- cabelo castanho;
- face oval.
A sua assinatura
O Dental Register and Directory of the United States and Canada, de 1917, fornece-nos mais algumas informações curiosas, como o horário de funcionamento do seu consultório, situado no edifício Wells e o n.º de telefone.
O seu consultório situava-se no Wells Building, onde funcionavam vários escritórios e outros serviços. o edifício foi construído em 1902 por um dos maiores magnatas de Milwaukee, Daniel Wells. Era considerado um edifício de vanguarda para a época, bastante moderno e qualificado.
Wells Building
A 18 de Maio de 1925, com 69 anos de idade, morre Ella Leonard Shaw, sua esposa.
Após 50 anos a exercer medicina dentária, o Dr. J.P.C. reforma-se e em 1931 muda-se para Los Angeles, California. Quem sabe, para aproveitar o sol, o calor e as praias do Golden State. Entretanto conhece Ann Fraser Webb, natural de Charlottesville, da Vírginia.
A 27 de Abril de 1936, com 79 anos, casa-se com Ann F. Webb de 48 anos. Os censos de 1940 indicam-nos que moravam no n.º 1526 na 6th Avenue, em Los Angeles.
A 14 de Outubro de 1946, pelas 13h. e 40 min., John Peter Carmichael falece com 90 anos de idade. Um dia após ter dado entrada no Sun Ray Sanatorium, em Los Angeles.
Segundo a certidão de óbito faleceu de complicações causadas pela diabetes.
Quatro dias depois seria cremado no Pierce Brothers Crematorium, em los Angeles
Ann. F. Webb falece 8 anos mais tarde.
A revista dos alunos da Universidade do Michigan (The Michigan Alumnus) fornece-nos o derradeiro documento que faltava, uma foto identificativa e um facto curioso. O Dr. John Peter Carmichael foi pioneiro no uso da anestesia dentária local, foi ele que veio pôr fim a séculos de sofrimento.
Um grande bem-haja Dr. Carmichael
FIM DA TERCEIRA PARTE
(continua)
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Re: Gruen cal. 716 – "Morrer é cair no esquecimento"
Qui 28 maio 2020, 08:13
Depois desta pesquisa toda, não havia hipótese de deixar escapar o relógio. Conhecia melhor o doutor J.P. Carmichael que os meus tri- e tetravós nascidos na mesma década.
Eu e o relógio estávamos já de algum modo ligados, tal como no Senhor dos Anéis o Anel se liga a Gollum para ser resgatado do rio e do esquecimento.
Por coincidência comprei o relógio a uma pessoa do Illinois (estado natal de J.P.C.). Seria um acaso, teria o relógio ido parar às mãos de um familiar próximo durante as partilhas? Teria sido vendido por J.P.C. quando se mudou para a Califórnia?
Nunca saberemos as voltas que ele deu. Ainda indaguei junto do vendedor se estaria relacionado com a pessoa cujo nome se encontrava gravado no relógio, mas não obtive resposta.
Eu e o relógio estávamos já de algum modo ligados, tal como no Senhor dos Anéis o Anel se liga a Gollum para ser resgatado do rio e do esquecimento.
Por coincidência comprei o relógio a uma pessoa do Illinois (estado natal de J.P.C.). Seria um acaso, teria o relógio ido parar às mãos de um familiar próximo durante as partilhas? Teria sido vendido por J.P.C. quando se mudou para a Califórnia?
Nunca saberemos as voltas que ele deu. Ainda indaguei junto do vendedor se estaria relacionado com a pessoa cujo nome se encontrava gravado no relógio, mas não obtive resposta.
FIM DA QUARTA PARTE
(continuaremos com a história da GRUEN e com a análise do relógio)
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Re: Gruen cal. 716 – "Morrer é cair no esquecimento"
Qui 28 maio 2020, 09:18
Grande trabalho de investigação @SquareWatch, quando precisar de descobrir alguma coisa já sei a quem falar.
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Re: Gruen cal. 716 – "Morrer é cair no esquecimento"
Sex 29 maio 2020, 00:04
BREVE E MUITO REDUZIDA HISTÓRIA DA GRUEN
A Gruen Watch Company foi uma das maiores empresas de manufactura de relógios dos Estados Unidos. Fundada em 1894 esteve em funcionamento até 1958, estando sediada na cidade de Cincinnati no Ohio.
O seu fundador foi Dietrich Grün (1847-1911), que mais tarde, por questões de marketing, adoptou a grafia GRUEN.
Dietrich era um emigrante alemão que rumou para os Estados Unidos em 1867, fixando-se no Ohio, trabalhando talvez para o seu sogro, também ele relojoeiro. Em 1874 idealizou e patenteou o seu primeiro grande contributo para a história da horologia, um sistema que impedia a corda do relógio de ser enrolada até ao ponto de ruptura.
Em 1876 funda a The Columbus Watch Manufacturing Company, onde modifica, finaliza e monta em caixas movimentos produzidos na Suíça por Leo Asbery.
Dietrich teve sempre como preocupação tornar os seus relógios de bolso o mais cómodos possível para o utilizador. Para tal procurava desenvolver relógios que fossem cada vez mais leves e pequenos.
Dietrich foi também responsável pela introdução no mercado americano, dos relógios de bolso com sistema de corda que recorria ao uso da tige e coroa.
A crise económica de 1893 e os desentendimentos com os restantes sócios, levaram à extinção desta primeira empresa.
Em 1894, Dietrich, juntamente com o filho mais velho, funda a D. Gruen & Son. Poucos anos depois o filho mais novo também se junta ao negócio de família e a empresa passa a D. Gruen & Sons. No início de 1900 é novamente rebaptizada, desta vez como Gruen Watch Mfg. Co e em 1911 Gruen Watch Makers Guild.
A GRUEN foi das primeiras empresas a produzir relógios de pulso, tanto para homens como para mulheres, sendo os primeiros modelos lançados em 1908. Contudo foram um fracasso, pois os homens recusavam-se a adoptar esta nova moda.
Em 1910 a GRUEN criou uma fábrica em Biel, na Suíça, onde eram construídos em exclusivo os movimentos que seriam depois enviados para a América, onde seriam reunidos às restantes partes que compõem um relógio. Contudo até finais da década de 1930, os movimentos para relógios mais económicos continuariam a ser comprados a empresas externas.
Após a morte súbita de Dietrich em 1911, os dois irmãos ficam à frente da empresa e em 1917 constroem o icónico edifício sede da empresa o "Time Hill", localizado às portas da cidade de Cincinnati.
Durante os anos de 1920 os relógios de pulso foram aumentando de popularidade, e enquanto as restantes marcas americanas, mais conservativas, continuavam a produzir apenas relógios de bolso, a GRUEN procurava convencer os consumidores de que um homem deveria possuir um relógio de bolso e um de pulso, para usar em função das ocasiões.
A GRUEN foi das primeiras empresas a desenvolver movimentos especificamente para relógios de pulso. Além disso produzia movimentos especiais para relógios rectangulares, enquanto a competição procurava miniaturizar os movimentos usados nos relógios circulares. Isto levou à criação por parte da GRUEN de designs bastante arrojados e de pouca espessura, culminando na criação do famoso Gruen Curvex.
Adoro este. Um relógio para ser usado na lateral do pulso. Um exclusivo para automobilistas.
Em 1953 a empresa atingiu o seu ponto alto em termos de vendas. Contudo em 1958, depois da saída da família Gruen do negócio, a par com a desordem financeira e alguns escândalos, assistiu-se à venda e desmantelamento da empresa "original". Algum do equipamento foi ainda transferido para Nova York, onde se tentou manter o negócio através do fabrico de relógios 100% americanos, acabando por falir em 1976.
A fábrica criada de raiz em Biel foi comprada pela ROLEX e toda a documentação pré 1958 foi destruída.
A empresa tem uma história bastante rica e interessante, por isso se quiserem saber mais recomendo vivamente a consulta desta página.
Fontes:
http://www.pixelp.com/gruen/introduction.html
http://www.thewatchguy.com/pages/GRUEN.html
http://www.gruenwristwatches.com/serial-numbers.php
FIM DA QUINTA PARTE
(continua com a análise do relógio)
(continua com a análise do relógio)
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Re: Gruen cal. 716 – "Morrer é cair no esquecimento"
Sex 29 maio 2020, 14:26
Grande post que aqui vai
E ainda por cima fiquei a saber que não sou o único maluco que gosta deste tipo de investigações
E ainda por cima fiquei a saber que não sou o único maluco que gosta deste tipo de investigações
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Re: Gruen cal. 716 – "Morrer é cair no esquecimento"
Sex 29 maio 2020, 19:09
Tempus fugit escreveu:Grande post que aqui vai
E ainda por cima fiquei a saber que não sou o único maluco que gosta deste tipo de investigações
Obrigado pelo incentivo.
É pena as investigações não correrem sempre assim tão bem.
Foi uma sorte ter-me cruzado com este relógio e ainda por cima ter ele pertencido a alguém relativamente famoso. Se J.P. Carmichael tivesse sido canteiro certamente não haveria tantas fontes para pesquisar.
O relógio parece que estava a pedir para ser investigado. Tinha lá os dados básicos todos, se por exemplo lhe faltasse o "Ozaukee Country Club" nunca na vida saberia em qual dos estados americanos deveria procurar.
Quando passar esta pandemia estou tentado a entrar em contacto com o Country Club, a ver se eles ainda têm algum registo da compra do relógio ou se sabem em que data ocorreu o torneio. Era a cereja no topo do bolo.
- Tempus fugit
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Re: Gruen cal. 716 – "Morrer é cair no esquecimento"
Sex 29 maio 2020, 20:58
Sim é verdade. Tenho um ou outro relógio com dedicatória, mas não é fácil depois ir atrás dos antigos donos.
Por exemplo, tenho um Marvin com uma inscrição "За 20 год. рада скупштина општине Бач. Паланка". Lá consegui chegar à conclusão que está em sérvio e quer dizer "Pelos 20 anos na Assembleia Municipal de Bačka Palanka". Mais do que isto será difícil.
Sendo genealogista amador como tu, também me deparo com muitas dificuldades nalguns costados. Grande parte dos meus antepassados não tèm grande história para contar e quando encontro algum com mais substância, tipo o meu 13º avô António Banha, cavaleiro da Casa Real, é uma festa
Por exemplo, tenho um Marvin com uma inscrição "За 20 год. рада скупштина општине Бач. Паланка". Lá consegui chegar à conclusão que está em sérvio e quer dizer "Pelos 20 anos na Assembleia Municipal de Bačka Palanka". Mais do que isto será difícil.
Sendo genealogista amador como tu, também me deparo com muitas dificuldades nalguns costados. Grande parte dos meus antepassados não tèm grande história para contar e quando encontro algum com mais substância, tipo o meu 13º avô António Banha, cavaleiro da Casa Real, é uma festa
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Re: Gruen cal. 716 – "Morrer é cair no esquecimento"
Sex 29 maio 2020, 21:37
SOBRE O RELÓGIO
E
OUTROS PORMENORES
Mesmo com a destruição de toda a documentação da empresa referente ao período pré 1958, é possível encontrar alguns sites na internet que se dedicam, maioritariamente, ao estudo dos relógios de pulso da GRUEN. Infelizmente, no que diz respeito aos relógios de bolso a informação é muito escassa, principalmente para os relógios de gama baixa.
O relógio que esteve na base de todo este tópico é um relógio de bolso da marca GRUEN de finais dos anos de 1920 e princípios de 1930.
Possui no seu interior o movimento de calibre 716, com 15 pedras e ajustado apenas em 2 posições.
Ao contrário dos movimentos de grande qualidade e precisão (VeriThin e UltraVeriThin), que eram construídos em Biel, na Precision Factory ou Precision Workshop em exclusivo para a GRUEN, o 716 era considerado um movimento de gama baixa e a sua manufactura estava a cargo de empresas subsidiárias, neste caso em particular a empresa construtora era a LAVINA, situada em Villeret na Suíça.
A manufactura de relógios para a GRUEN por parte da LAVINA, teve início por volta de 1910 e durou até inícios ou meio da década de 1930, quando a GRUEN começou a passar por dificuldades financeiras causadas pela recessão.
Fábrica da LAVINA em Villeret, Suíça
Apesar do movimento 716 ser catalogado como sendo de gama baixa, isso não significa que era barato. Esta gama era vendida entre $25-35 USD ($380-530 USD na actualidade), sendo que o valor médio mensal da renda de uma casa no estado do Wisconsin no ano de 1930 era de $28,79.
O relógio é relativamente pequeno, leve e muito prático de usar, o que vai de encontro aos princípios do fundador da empresa.
Se um relógio de gama baixa, designado por SemiThin é assim tão refinado e fino (menos de 1cm de espessura a contar com o vidro), nem quero imaginar como será um VeriThin ou um UltraVeriThin!!!!
É praticamente do tamanho de uma moeda, mas muito mais leve.
Não faço ideia se o relógio está a funcionar ou não, pois falta-lhe a tige e a coroa.
Neste momento dei inicio à procura de um relógio dador, pois sinto que é um dever voltar a colocar esta peça em funcionamento. Contudo poderá ser uma tarefa demorada pois este calibre só surge à venda para peças de longe a longe.
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O relógio veio com uma corrente que traz uma medalha da Antiga Ordem Árabe dos Nobres do Santuário Místico (Ancient Arabic Order of the Nobles of the Mystic Shrine), actualmente conhecida como Shriners International ou simplesmente Shriners.
Os Shriners auto-intitulam-se como uma fraternidade baseada na diversão, companheirismo e nos princípios maçónicos do amor fraterno, da entreajuda e da verdade. Foram fundados em 1870 e encontram-se espalhados por 200 templos em todo o mundo.
São famosos pelos seus chapéus, pelos desfiles em minicarros, mas em especial pela rede de 22 hospitais infantis (gratuitos), localizados nos Estados Unidos, Canadá e México.
Apenas alguns das várias dezenas de Shriners famosos.
O seu símbolo é formado por:
- uma cimitarra, que representa a espinha dorsal da fraternidade, os seus membros;
- duas garras pela fraternidade Shriners e a sua filantropia;
- uma esfinge, que representa o órgão dirigente dos Shriners;
- a estrela de pontas, que representa os milhares de crianças ajudadas todos os anos.
O emblema carrega também a frase "Robur et Furor", que significa "Força e Fúria".
Não há maneira de saber se a corrente e a medalha foram adicionadas ao relógio pelo seu primeiro dono, o Dr. John Peter Carmichael, ou se por um posterior proprietário.
Mas eis que tive a felicidade de encontrar a seguinte frase:
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Não há maneira de saber se a corrente e a medalha foram adicionadas ao relógio pelo seu primeiro dono, o Dr. John Peter Carmichael, ou se por um posterior proprietário.
Mas eis que tive a felicidade de encontrar a seguinte frase:
"Todos os Shriners são maçons, mas nem todos os maços são Shriners."
Então lá fui eu pesquisar mais um bocado e...
Lá estava, o Dr. John Peter Carmichael era membro de 32.º grau (o penúltimo), do Consistório de Wisconsin, loja maçónica do Rito Escocês.
O que nos permite dizer, com alguma segurança, que a corrente e a medalha dos Shriners foram adicionadas ao relógio por ele.
Local de reunião do Consistório de Wisconsin.
Foto tirada entre 1912-1937.
Dou assim finalmente por encerrado o meu pequeno tributo ao Dr. John Peter Carmichael e ao seu relógio de bolso, troféu por ele ganho num torneio de golf em 1930.
Um obrigado a todos os resistentes.
FIM
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Re: Gruen cal. 716 – "Morrer é cair no esquecimento"
Sex 29 maio 2020, 22:22
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Re: Gruen cal. 716 – "Morrer é cair no esquecimento"
Sex 29 maio 2020, 22:37
Tempus fugit escreveu:Sim é verdade. Tenho um ou outro relógio com dedicatória, mas não é fácil depois ir atrás dos antigos donos.
Por exemplo, tenho um Marvin com uma inscrição "За 20 год. рада скупштина општине Бач. Паланка". Lá consegui chegar à conclusão que está em sérvio e quer dizer "Pelos 20 anos na Assembleia Municipal de Bačka Palanka". Mais do que isto será difícil.
Sendo genealogista amador como tu, também me deparo com muitas dificuldades nalguns costados. Grande parte dos meus antepassados não tèm grande história para contar e quando encontro algum com mais substância, tipo o meu 13º avô António Banha, cavaleiro da Casa Real, é uma festa
Fazer genealogia na Sérvia não é a mesma coisa do que fazer nos E.U.A., até nisso tive sorte.
Sem contar com a barreira linguística "cheira-me" que eles por lá não devem ter as coisas tão informatizadas e acessíveis.
Nem Espanha, supostamente mais "evoluída", tem os arquivos tão acessíveis e organizados como nós. Tenho uns avós que vieram de lá no séc. XVIII, mas é impossível dar com os registos, só mesmo pagando a um profissional que vá fazer o trabalho in loco.
Que eu saiba já não tenho "gente fina" nos meus costados desde o início do séc. XVII. Mas não são esses que me dão mais gozo, pois basta pegar num nobiliário e já está lá tudo feito, nalguns casos até ao séc. III e pelo meio ainda se descobre que Maomé foi nosso avô e da rainha Isabel II de Inglaterra também .
Eu gosto é de ir à descoberta, tentar arranjar uma alternativa aos becos sem saída... que são muitos no meu lado paterno pela destruição de documentos durante a guerra da Restauração e invasões napoleónicas... c'est la vie!
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Re: Gruen cal. 716 – "Morrer é cair no esquecimento"
Sáb 30 maio 2020, 18:16
Muito interessante @SquareWatch
Ao J.P. valeu-lhe bem o relógio, nem que fosse para ter alguém quase 100 anos depois a fazer-lhe uma mini biografia.
É este tipo de informação e história que adicionam valor ao relógio!
Ao J.P. valeu-lhe bem o relógio, nem que fosse para ter alguém quase 100 anos depois a fazer-lhe uma mini biografia.
É este tipo de informação e história que adicionam valor ao relógio!
- lucatorelli
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Re: Gruen cal. 716 – "Morrer é cair no esquecimento"
Qua 03 Jun 2020, 16:33
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Re: Gruen cal. 716 – "Morrer é cair no esquecimento"
Sex 05 Jun 2020, 09:46
Bom! Grande trabalho de pesquisa, com excelentes resultados, e grande homenagem ao JP. Neste momento ele deve estar no túmulo a sorrir de satisfação, por estar a ser lembrado ... em Portugal! Parabéns @SquareWatch! Gostei muito de ler. Esse relógio já tem um cantinho especial na tua colecção, com certeza!
Pessoalmente, quando vejo uma dedicatória na traseira do relógio, "fujo" sempre, acho que não gosto de pensar em comprar uma coisa que já está pessoalizada, relativamente a alguém que muito provavelmente já faleceu. Mas acho que depois de ler este post, vou passar a olhar de outra forma as dedicatórias ...
PS: Tenho um primo, residente em Albergaria-à-Velha (minha terra), ligado desde sempre à genealogia e heráldica, com vários livros publicados, se algum dia precisarem de alguma coisa, é sempre um bom contacto.
Pessoalmente, quando vejo uma dedicatória na traseira do relógio, "fujo" sempre, acho que não gosto de pensar em comprar uma coisa que já está pessoalizada, relativamente a alguém que muito provavelmente já faleceu. Mas acho que depois de ler este post, vou passar a olhar de outra forma as dedicatórias ...
PS: Tenho um primo, residente em Albergaria-à-Velha (minha terra), ligado desde sempre à genealogia e heráldica, com vários livros publicados, se algum dia precisarem de alguma coisa, é sempre um bom contacto.
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Re: Gruen cal. 716 – "Morrer é cair no esquecimento"
Sex 05 Jun 2020, 23:33
Bom! Grande trabalho de pesquisa, com excelentes resultados, e grande homenagem ao JP. Neste momento ele deve estar no túmulo a sorrir de satisfação, por estar a ser lembrado ... em Portugal! Parabéns @SquareWatch! Gostei muito de ler. Esse relógio já tem um cantinho especial na tua colecção, com certeza!
Pessoalmente, quando vejo uma dedicatória na traseira do relógio, "fujo" sempre, acho que não gosto de pensar em comprar uma coisa que já está pessoalizada, relativamente a alguém que muito provavelmente já faleceu. Mas acho que depois de ler este post, vou passar a olhar de outra forma as dedicatórias ...
PS: Tenho um primo, residente em Albergaria-à-Velha (minha terra), ligado desde sempre à genealogia e heráldica, com vários livros publicados, se algum dia precisarem de alguma coisa, é sempre um bom contacto.
Eu sou o oposto do @JPPgosto de "sentir o peso" do passado, saber por onde uma peça andou e o que "viu".
Mas também compreendo o seu ponto de vista, por vezes estas indagações podem ser um pouco macabras.
P.S.: Obrigado pela indicação do seu primo.
- JPP
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Re: Gruen cal. 716 – "Morrer é cair no esquecimento"
Sáb 06 Jun 2020, 08:58
P.S.: Obrigado pela indicação do seu primo.
É este, se precisarem, já sabem quem é:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Delfim_Bismarck_Ferreira
@SquareWatch, eu também gosto de sentir "o peso do passado", a personalização de uma peça que tenho no braço é que me deixa um bocado "avesso"
- Sansoni7
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Re: Gruen cal. 716 – "Morrer é cair no esquecimento"
Qua 17 Jun 2020, 08:12
Parabéns por este tópico...e por este pedaço da História.....
- Sansoni7
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Re: Gruen cal. 716 – "Morrer é cair no esquecimento"
Qua 17 Jun 2020, 10:42
Também há cá por casa um relógio...«marcado»
Terá sido ofertado a uma Professora Primária, á época em África.
Terá sido ofertado a uma Professora Primária, á época em África.
- SquareWatch
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Re: Gruen cal. 716 – "Morrer é cair no esquecimento"
Qua 17 Jun 2020, 23:20
Sansoni7 escreveu:Terá sido ofertado a uma Professora Primária, á época em África.
Muito interessante se pensarmos que pode ter sido entregue pessoalmente pelo Marcelo Caetano. Além disso essa viagem a África também foi importante, a primeira visita de um chefe de governo ao Ultramar.
... só é pena a pouca habilidade do gravador.
- Sansoni7
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Re: Gruen cal. 716 – "Morrer é cair no esquecimento"
Qui 18 Jun 2020, 07:32
...eu creio que é da foto pois as palavras gravadas estão completas.
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