In Eiserner Zeit 1916 / Em Tempo de Ferro 1916

Olá a todos!
Tal pai babado, venho apresentar-vos o meu benjamim.

Andava eu a semana passada à procura de uma corrente em prata esterlina, catita e baratinha, que combinasse com a minha última aquisição, quando tropecei nisto...



Não era nada do que eu queria, mas foi amor à primeira vista.
A cor... a patina... a história... e ainda por cima trazia um relógio jeitoso agarrado.

Este lote tinha de ser meu e lá caí outra vez no vício.
Sou agora o feliz proprietário de uma corrente de relógio alemã, de 1916 em ferro e de um relógio DOXA com uma linda caixa em aço oxidado e uns esbeltos ponteiros azuis.

Vamos lá desenvolver um pouco mais e dar algum conteúdo ao tópico.










A partir de 1806, começa a produzir as primeiras peças em joalharia, inicialmente simples colares e medalhões que eram usados como símbolos de luto, devido à sua cor negra. Mas nesse mesmo ano Napoleão invade Berlim e confisca os moldes, entregando-os aos ourives franceses para que aperfeiçoassem a técnica.

Apesar do duro golpe napoleónico, a produção de joelharia em ferro na Real Fundição não cessa e atinge o seu pico entre 1813 e 1815, quando a família real prussiana incentiva a aristocracia e a classe alta a doarem os seus bens em ouro e prata com o intuito de financiar a Guerra de Libertação contra Napoleão.

Em troca os beneméritos recebiam jóias em ferro como símbolo da sua lealdade e patriotismo, passando a ser de muito mau gosto usar outro tipo de jóias em público. E assim se explica também porque é que a famosa condecoração alemã "Cruz de Ferro" é em ferro.

Muitas destas peças tinham gravadas inscrições tais como: Gold gab ich für Eisen (doei ouro por ferro), Für das Wohl des Vaterlands (a bem da nação) ou tinham no reverso a efígie de Friedrich Wilhelm III.




Em 1916, a Alemanha tentou recuperar a ideia, procurando incentivar a população a contribuir para o esforço de guerra, doando os seus bens em ouro e prata ou trocando-os por papel moeda, recebendo em troca uma peça em ferro (neste caso uma corrente de relógio). Contudo a iniciativa não teve a mesma adesão que tinha tido 100 anos antes.

Esta corrente em particular, tem cerca de 48 cm de comprimento e apresenta 3 placas que a subdividem em 4 secções.



Duas das placas apresentam a efígie do Kaiser Wilhelm II ou será que é o Paul von Hindenburg, comandante do exercito alemão durante a Primeira Grande Guerra? Não consigo decidir qual deles é, ambos usam um bigode esquisito .






A placa central apresenta gravada a águia imperial alemã e no reverso a frase "IN EISERNER ZEIT 1916", em Tempo de Ferro 1916.





Presa à corrente, além de uma bússola, existe uma pequena medalha comemorativa em ferro, cunhada pela Münzprägeanstalt Ludwig Christian Lauercom, com a figura do Eisernen Hindenburg / o Hindenburg de Ferro, a data de 1915 e no reverso a inscrição "DEM EISERNEN HINDENBURG DAS DEUTSCHE VOLK", que quer dizer mais coisa menos coisa "do povo alemão para o Hindenburg de Ferro".


E o que era o Hindenburg de Ferro?



Por todo o sudeste europeu, em muitas cidades da Hungria, Roménia (Transilvânia) e de outros regiões do antigo Império Austro-húngaro, existia um costume medieval, que se prolongou até ao século XIX, o de pregar pregos em cruzes, árvores e até mesmo em pedras, como oferendas votivas. Procurando alcançar protecção, boa sorte ou como sinal de agradecimento por uma cura.

O mais antigo e famosos destes artefactos místicos é o Stock im Eisen (o cepo de ferro) em Viena de Áustria, onde o primeiro prego foi pregado antes de 1440.


Durante a Primeira Grande Guerra esta tradição foi recuperada nas regiões germânicas do Império Austro-húngaro e no próprio Império Germânico, como sendo um modo patriótico de angariação de fundos para ajudar os soldados feridos ou as viúvas e os órfãos dos caídos em combate, mas casos houve em que as doações foram canalizadas para o esforço de guerra.

Foram esculpidas em madeira mais de 700 estátuas de figuras lendárias ou históricas, de emblemas, cotas de armas, animais, etc., onde as pessoas poderiam inserir pregos a troco de uma doação.




Dependendo do valor da doação, o benemérito poderia adquirir pregos de 3 cores diferentes (cinza, prata ou ouro), sendo que o local onde os pregos eram pregados reflectia igualmente o valor da doação.

A maior dessas estátuas, com 12,50 metros de altura, era o Hindenburg de Ferro, erguido na Königsplatz, em frente à coluna da Victória.




A cerimónia de inauguração teve lugar a 4 de Setembro de 1915 e só nas primeiras 5 horas foram inseridos 20000 pregos na estátua. No final de Agosto de 1918, foram contabilizados 5600 pregos dourados, 75000 prateados e 780000 cinza. Tendo sido gastos quase 6 toneladas de pregos e angariados 1.15 milhões de marcos.






E para acabar mais umas fotos tiradas pelo vendedor...












Medalha de Ouro recebida na "Exposição Internacional" de Milão em 1906, pelo excelente design e qualidade de construção dos seus relógios de bolso.

Obrigado por esta lição.

@SquareWatch isto é investigação "cultural", parabéns..

(mais um) Excelente tópico @SquareWatch. Obrigado pela partilha

No meio de uma série de coisas que aprendi, achei bastante interessante o culto da imagem do Marechal Hindenburg (parece ser ele que está presente nas medalhas). Fica-se com a impressão que, de certa forma, até superava o Kaiser. Isso pode explicar o facto de, apesar da derrota na Grande Guerra, ele ter acabado por ascender a presidente do Reich.

Ah, e o relógio, ainda por cima, é giro!

Leitura para logo à noite, agora não tenho tempo, mas fico cheio de vontade! 

Muito interessante @SquareWatch, desta forma ficamos logo com um apego bem grande às peças. Saber a história delas é de facto uma enorme mais valia para as valorizarmos (tenho pena de nunca ter tempo para aprofundar quase nada) e essa é uma das razões pela qual eu realmente gosto dos vídeos do TGV, isto a propósito de algo que li em outro tópico sobre os vídeos do Youtube sobre relógios.

Abraço

PS: Quando encontrares correntes em prata diz, se puderes, pois também há vários meses que procuro uma para os meus relógios de bolso. Em Espanhol chamam-se "Leontinas", o que acho alguma piada pois a minha mãe tinha uma amiga com esse nome! 

Obrigado pelas palavras, ainda bem que gostaram.
Foi um pouco feito à pressa, até me esqueci de colocar as fontes bibliográficas.

Já saiu duas vezes à rua e tem tido um desempenho espectacular para um relógio com mais de 100 anos ( 1 min. a + por dia).

Só é pena passar a maior parte do tempo no bolso, aqueles ponteiros deixam-me doido

Muito giro, parabéns pela aquisição!

De facto o relógio é lindíssimo @SquareWatch e os ponteiros são soberbos, entendo bem o teu problema! Eu acho que passava o dia com ele na mão!