SmithS PRS-29 AM

Saudações!


Está na altura de apresentar o meu novo relógio.

Desta vez a escolha recaiu no modelo PRS-29 AM (Air Ministry), produzido por Eddie Platts da Timefactors.




Uma homenagem aos relógios vulgarmente conhecidos por modelo 6B/159 ^[1], que foram usados pelos pilotos e navegadores da Royal Air Force (RAF) durante a Segunda Grande Guerra.

[1] - referência usada pela RAF para identificar os relógios destinados ao uso de pilotos e navegadores.


ENQUADRAMENTO HISTÓRICO


De um modo muito sucinto vou tentar relatar a origem do modelo 6B/159.

Numa época anterior à invenção do GPS, ter um relógio preciso e de fácil leitura era um requisito essencial para determinar a posição de uma aeronave e consequentemente seguir um plano de voo. Ciente desse facto, desde 1934 a RAF vinha desenvolvendo esforços para equipar as suas forças com um relógio fiável e de fácil leitura.

Com o despoletar da Segunda Grande Guerra, esse processo de pesquisa sofreu um grande desenvolvimento, com as forças aéreas britânica e americana a unirem esforços, que culminariam no desenvolvimento do modelo americano A-11 com aro rotativo (A-11 Weems), baptizado pela RAF com o código 6B/159.





O fabrico deste modelo ficou a cargo de 5 empresas: Zenith, Omega, LeCoultre, Longines e Movado. Sendo que, os modelos destinados à RAF tinham de seguir os critérios estabelecidos na norma G.535.

Entre outras exigências, a norma G.535 especificava que:

• o movimento deveria ter corda suficiente que permitisse o seu funcionamento durante, pelo menos, 36 horas;
  
• os ponteiros deveriam ser em aço azulado termicamente e o ponteiro dos segundos deveria ser central;
  
• o relógio devia ter um aro rotativo;
  
• a caixa poderia ser em aço, cromada ou em latão endurecido;
  
• o mostrador devia ser branco (como o esmalte) ou ligeiramente prateado e com numeração árabe.
  

Os primeiros 6B/159 entraram ao serviço no início de 1940, mas menos de 12 meses depois surgia já uma nova versão, sem aro rotativo. Esta alteração no design ficou essencialmente a dever-se a uma questão de redução de custos e aumento da rapidez de produção.





Para além das marcas já referenciadas, também a Ebel, a Waltham e a Cyma se empenharam na produção deste novo modelo.

Em 1942 surgia um dos mais icónicos 6B/159, o Omega CK2292. Com a espiral da roda volante fabricada numa liga não metálica. Característica bastante útil para as tripulações dos bombardeiros, em especial os que estavam sujeitos aos fortes campos electromagnético gerados pelos aparelhos de radar e de comunicação sem fios.








Os 6B/159 eram tão fiáveis em termos de precisão e de construção que muitos continuaram ao serviço até à década de 1960, sofrendo pequenas actualizações, como a transferência do mecanismo para caixas novas de 36 mm em aço inox e em alguns casos mostradores novos.


Infelizmente a empresa SMITHS nunca produziu o modelo 6B/159. Embora tenha desenvolvido um protótipo. Contudo contribuía para o esforço de guerra aliado, dedicando-se à produção de instrumentos de precisão e de relógios para as cabines de pilotagem.

Sempre com posts muito informativos! @SquareWatch
Boa compra! já tinha reparado nele quando andei a namorar o smiths explorer

Muito obrigado pela partilha e pelo manancial de informação.

Acho o relógio lindo e, assim que o vi, ainda antes de ler o resto do post e ver as fotos, lembrei-me logo do Longines Heritage Military 1940... depois percebi porquê   Obviamente têm a mesma génese.

Aproveito só a boleia para fazer uma menção honrosa ao Omega CK2129, o relógio do filme Dunkirk, que, julgo, estava no conjunto de relógios de luneta rotativa que mostraste. Bela peça e grande história. Não sou o maior fã de relógios vintage, mas se pudesse colocar as minhas manápulas neste, não hesitaria.


Parabéns pela aquisição e desfruta.

Nunogoncalves escreveu:Aproveito só a boleia para fazer uma menção honrosa ao Omega CK2129, o relógio do filme Dunkirk, que, julgo, estava no conjunto de relógios de luneta rotativa que mostraste. Bela peça e grande história. Não sou o maior fã de relógios vintage, mas se pudesse colocar as minhas manápulas neste, não hesitaria.

Para mim relógios com história põem-me louco .
O pior é que não sou o único a sofrer do mesmo mal. A procura é muita, a oferta é pouca e os preços são sempre a subir .

Belo relógio @SquareWatch Parabéns!

Mais um grande e excelente post @SquareWatch, obrigado e parabéns! Lê-se melhor que a maioria dos livros e artigos onde meto as unhas! Gostei muito! E parabéns pela ótima compra!

Em comum com a história que contaste, tenho manómetros Smiths no meu Mini de 1975 e tenho um relógio de pendulo de lareira da marca Enfield, talvez dos anos 50, que era uma das marcas da Smiths.

Só achei estranho isto: "O mais icónico relógio produzido pela SMITHS é definitivamente o Smiths de Luxe, o modelo que Sir Edmund Hillary usou quando se tornou no primeiro Homem a alcançar o topo do Everest". Então esse não foi o Rolex Explorer? Eu estava certo que o meu Explorer é o legítimo sucessor do usado pelo Sir Edmund Hillary ... 

JPP escreveu:Mais um grande e excelente post @SquareWatch, obrigado e parabéns! Lê-se melhor que a maioria dos livros e artigos onde meto as unhas! Gostei muito! E parabéns pela ótima compra!

Em comum com a história que contaste, tenho manómetros Smiths no meu Mini de 1975 e tenho um relógio de pendulo de lareira da marca Enfield, talvez dos anos 50, que era uma das marcas da Smiths.

Só achei estranho isto: "O mais icónico relógio produzido pela SMITHS é definitivamente o Smiths de Luxe, o modelo que Sir Edmund Hillary usou quando se tornou no primeiro Homem a alcançar o topo do Everest". Então esse não foi o Rolex Explorer? Eu estava certo que o meu Explorer é o legítimo sucessor do usado pelo Sir Edmund Hillary ... 

Existe a teoria que na realidade foram os dois, sendo que Hillary usava na altura o rolex mas também levava com ele o smiths, o que era prática comum na altura, já que ambas as marcas ofereciam aos alpinistas exemplares dos seus relógios que por vezes acavabam por ficar com um de cada.
Em relação ao teu explorer, ele não é o descendente direto do que chegou ao cume, esse era um Oyster Perpetual, o Explorer foi criado depois.

Duca749 escreveu:
Existe a teoria que na realidade foram os dois, sendo que Hillary usava na altura o rolex mas também levava com ele o smiths, o que era prática comum na altura, já que ambas as marcas ofereciam aos alpinistas exemplares dos seus relógios que por vezes acavabam por ficar com um de cada.
Em relação ao teu explorer, ele não é o descendente direto do que chegou ao cume, esse era um Oyster Perpetual, o Explorer foi criado depois.

Sim, mas o Oyster Perpetual, uns meses mais tarde, nesse mesmo ano (1953?), levou com o nome de Oyster Perpetual Explorer, numa jogada de marketing da marca para aproveitar o feito, sendo hoje o modelo com maior longevidade de produção da Rolex, podendo de fato dizer-se que é o descendente direto. Digo eu, mas pronto, é subjetivo. Claro que a referência do OP Explorer não é a mesma do que chegou ao cume, mas ainda assim tem esse nome por a marca o ter referenciado a esse feito logo em seguida.

E não seria o parceiro do Sir Edmund Hillary, um tipo com um nome esquisito, Chinês ou Japonês, que estava com ele, que levava o Smiths? 

Era Tenzing Norgay, um sherpa nepalês, li alguns textos em que também ele levaria um Rolex, aliás este assunto é um bocado dúbio, o que é certo é que a Rolex aproveitou bem esse facto para criar um relógio associado a esse feito e faturar, o explorer do qual o teu é descendente e para mim um dos mais atrativos da marca.

Duca749 escreveu:Era Tenzing Norgay, um sherpa nepalês, li alguns textos em que também ele levaria um Rolex, aliás este assunto é um bocado dúbio, o que é certo é que a Rolex aproveitou bem esse facto para criar um relógio associado a esse feito e faturar, o explorer do qual o teu é descendente e para mim um dos mais atrativos da marca.

Esse mesmo, nunca me lembro o nome! 

Para mim o Explorer, de todos os que tenho, é de facto "O" relógio, como costumo dizer! E não vou dizer que não gostava de ter vários dos outros modelos, claro que gostava de ter um Daytona, um Submariner (se bem que estou a apontar para o Tudor BB58 e acho que é um bom substituto), um GMT, um Skydewller ou um Milgauss, mas se só pudesse escolher um, seria mesmo o Explorer! Bom, e por enquanto foi efetivamente a minha escolha! 

Excelente recensão! @SquareWatch

Markku escreveu:Excelente recensão! @SquareWatch

Obrigado!

"Recensão", desconhecia essa expressão. Tenho de adicionar ao meu léxico.


Pelo que li na internet, na Expedição ao Everest de 1953 estiveram presentes cerca de 2 dúzias de relógios.

• Os Smiths que foram adquiridos pela Royal Geographical Society para equipar a expedição.
  

• Os Rolex. Que foram distribuídos por alguns membros da equipa e que funcionavam como relógios de testes, que depois teriam de ser devolvidos para serem analisados pela marca. Havia também quem os usasse porque tinha recebido um como prémio por feitos alcançados em expedições anteriores.
  

• E muito provavelmente um Omega CK2287, usado pelo cientista de expedição, Griffith Pugh.
  

Os relógios não foram distribuídos uniformemente pela equipa. Havia quem estivesse a usar apenas um relógio, enquanto outros usavam um em cada pulso ou mesmo um no pulso e outro no cinto. E foi este pormenor, associado ao excelente sentido de oportunidade e marketing da Rolex, que deram origem ao mito de que o primeiro relógio no cume da mais alta montanha tinha sido um Rolex.

Quando em Londres se ficou a saber (por coincidência na manhã do dia da coroação da Rainha Isabel II, 2 de Junho de 1953) que o cume tinha sido alcançado, a Rolex apressou-se a publicar no The Times um anúncio de felicitação na primeira página. Foram literalmente os primeiros a dar a notícia ao mundo, pois a noticia propriamente dita surgia apenas na 6.ª página do jornal.


De propósito ou não o anúncio é muito ambíguo. Tem um grande símbolo da Rolex, mas ele está lá porquê? Porque foi um feito alcançado pelo Rolex ou esta lá apenas porque são eles que estão a pagar o anúncio?


Só no dia seguinte (3 de Junho) é que a Smiths publica um anúncio a afirmar que o primeiro relógio no cume tinha sido um relógio deles.



Depois disto a Rolex continuou a publicar anúncios ambíguos. Dava a entender que eles tinham estado no cume do Everest, mas nunca o afirmava categoricamente.

Até o próprio director administrativo da Rolex, em entrevista ao The BHI Horological Journal, em Outubro de 1953, tinha dúvidas quanto à presença de um Rolex no cume.





A partir daqui foi tudo jogadas de marketing e de manipulação da mente do consumidor por parte da Rolex.

Não podiam dizer que tinham sido os primeiros porque isso seria uma mentira descarada. Então, em vez disso, pagavam ao Hillary e ao Tenzing Norgay para se tornarem embaixadores da marca e faziam anúncios deste género.



Uma fotografia dos dois no cume do Everest, um texto não comprometedor e uma imagem de um Oyster Perpetual e puff começa-se a condicionar a mente das pessoas sem elas darem por isso .


Se tiverem dúvidas dêem uma leitora nestes post:
Smiths were the only watches worn on the summit of Everest in '53. The proof.
Rolex vs. Smiths: Which Watch Summited Everest in 1953? Putting a Controversy to Rest

Para mim o autor explica por A+B, sem sombra de dúvida, que o primeiro relógio no topo do Everest foi um SmithS.


E agora que a verdade foi revelada, um relógio que já era caro ainda mais caro vai ficar. Vão andar todos atrás de um.... raios!!!  

Lembrem-se que eu estou primeiro .

Excelente tópico, obrigado.
Fez-me lembrar que, provavelmente haverá um Smiths cá por casa...e creio que seja um relógio para invisuais.
Vou certificar-me.

Boa, escavaste bem o assunto!   Fica esclarecido, este post está muito rico!

Mais um excelente post, e claro, parabéns pelo relógio! Acho que deve ser o primeiro Smiths de pulso por cá.

Já estive mais dentro da Smiths mas há muito que não sigo a marca. Acho que disseste tudo sobre a marca e a ressalva sobre qual subiu realmente o Everest é mais um exemplo destas 'coisas' de história!

Obrigado a todos.

Quanto à história do Everest... independentemente do caso, revolta-me sempre ver um grande a aproveitar-se de um pequeno. Por isso nada me dá mais gosto que destapar carecas.