Os "irmãos" Jean d'Eve, Sectora e Quarta
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Duca749
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Os "irmãos" Jean d'Eve, Sectora e Quarta
Seg 12 Abr 2021, 01:58
Saudações caros companheiros.
Venho hoje apresentar-vos as duas últimas entradas na minha colecção, os fabulásticos irmãos Jean d'Eve.
À vossa esquerda o irmão mais velho, Jean d'Eve Sectora e à vossa direita o Jean d'Eve Quarta. No meio temos dois rolos de papel higiénico que vinham dentro de uma das encomendas, a servir de material de protecção e que me pregaram um ENORME susto, ao pensar que tinha sido aldrabado pelo vendedor .
São dois relógios analógicos de quartzo, da marca relojoeira suíça Jean d'Eve, com indicação da passagem do tempo através de ponteiros com função retrógrada.
Os Anos de 1970
Le Phare e o Sectora Original
Em 1981 a Le Phare-Sultana SA retira a marca Le Phare do mercado e introduz uma nova marca com um nome mais sofisticado, a Jean d'Eve. Esta nova marca apostava na produção de relógios de quartzo de design arrojado. O seu primeiro sucesso de vendas foi o modelo Spinnaker, um relógio desportivo inspirado na temática náutica, que veio permitir o retorno da empresa à produção de modelos complicados.
Em 1984 a Jean d'Eve faz renascer o modelo Sectora, desta vez com uma caixa assimétrica em forma de concha, um design nunca visto até então. Este novo Sectora usa um movimento de quartzo ao qual foi adicionado um módulo retrógrado, talvez o mesmo utilizado pela Wittnauer e LIP na década anterior. Em 1987 iria surgir um modelo mais compacto a pensar nas senhoras.
Em 1993 era apresentada na Feira de Basel, com toda a pompa e circunstância, a nova inovação da Jean d'Eve, o Quarta.
Enquanto os seus antecessores usavam um único mostrador, com escala ao longo de um sector circular de 120 ou 150º, o Quarta usava quatro quadrantes e quatro ponteiros para indicar as horas.
Ao longo do século XXI, tanto o Sectora como o Quarta tiveram várias reedições (quer em quartzo como mecânicos), estando ainda hoje em produção.
Venho hoje apresentar-vos as duas últimas entradas na minha colecção, os fabulásticos irmãos Jean d'Eve.
À vossa esquerda o irmão mais velho, Jean d'Eve Sectora e à vossa direita o Jean d'Eve Quarta. No meio temos dois rolos de papel higiénico que vinham dentro de uma das encomendas, a servir de material de protecção e que me pregaram um ENORME susto, ao pensar que tinha sido aldrabado pelo vendedor .
São dois relógios analógicos de quartzo, da marca relojoeira suíça Jean d'Eve, com indicação da passagem do tempo através de ponteiros com função retrógrada.
O modelo Sectora utiliza o movimento ETA 955.412 que não se encontra fixo à caixa, como nos relógios modernos. Em vez disso encaixa na tampa traseira, como os clássicos do século passado.
Quanto ao Quarta, ainda não tive necessidade nem curiosidade do o abrir e não encontrei nenhuma informação, vão-me perdoar, mas não faço ideia que movimento utiliza.
ETA 955.412
O primeiro modelo do Sectora esteve em produção entre 1984 e 1999, enquanto o Quarta surgiu pela primeira vez em 1993 (o meu é a versão de 2001).
Sectora
O modelo Quarta usa um mostrador dividido em quatro quadrantes,
cada um com o seu ponteiro retrógrado. Na imagem o relógio indica que são 4h e 25 min.
Design do fecho da correia a condizer.
Ambos os relógios vieram acompanhados das suas correias originais, em pele de Teju autêntica. Há muito que queria uma correia destas, mas por questões éticas nunca comprei nenhuma. Mas como neste caso o animal não morreu por minha causa, consigo viver bem com isso.
São um espectáculo! Ao contrário do que possa parecer, são extremamente macias e têm uma textura incrível. As correias de imitação não têm comparação possível.
Definitivamente dá mesmo nas vistas
Ultimamente tenho comprado muitos "dress watches", estou a ver que terei de remodelar o meu guarda-roupa se os quiser usar. Eu praticamente só visto casual!
----> --- xXx --- <----
Antes de mais devo alertar que o texto que se segue não é da minha autoria. Basicamente é uma tradução livre de um texto escrito por Stephen Foskett, intitulado "Retrograde Retrospective: A History of the Le Phare Sectora and Quarta", que eu tomei a liberdade de adaptar a este tópico com pequenos cortes ou adições.
O texto original pode ser encontrado no blog Grail Watch .
RETROSPECTIVA RETRÓGRADA
Uma História da Le Phare, do Sectora e do Quarta
Embora formas não convencionais para exibir as horas sejam populares nos dias de hoje, até à década de 1990 muito poucos relógios usavam ponteiros com movimento retrógrado para assinalar a passagem do tempo.
O chamado mostrador de sector circular (ou simplesmente "sector"), surgiu pela primeira vez em relógios de bolso por volta de 1650 e foi muito popular nos inícios de 1900, graças a um relógio produzido pela marca suíça Record.
Relógio Sector com caixa em forma de leque.
Produzido pela Record Watch Co.
Porém, seria necessário esperar até à década de 1970, para assistirmos ao aparecimento desta complicação em relógios de pulso, nomeadamente nos modelos: Futurama da Wittnauer, Secteur da LIP e Sectora da Le Phare. Modelos difíceis de encontrar nos dias de hoje e desconhecidos para a maioria do público, mas que foram verdadeiramente inovadores, mesmo quando a crise do quartzo desafiava a indústria da relojoaria mecânica.
Cronometragem retrógrada
O Nascimento dos Mostradores de Sector
ou
Relógio Linear
Tecnicamente falando, um relógio com mostrador de sector (ou simplesmente "relógio Sector"), assinala a passagem do tempo num mostrador com a forma de uma secção de 120º de um círculo (um "sector" como é designado em geometria)[1].
A maioria destes relógios usa ponteiros com movimento retrógrado, que saltam instantaneamente da indicação máxima do mostrador para a mínima, retomando a contagem. Várias fontes afirmam que Hans Buschmann, famoso relojoeiro bávaro, foi quem criou o primeiro relógio de bolso "Sector" em 1650, contudo há falta de provas irrefutáveis.
O que é inquestionável é que a Record Watch Company (fundada em 1903 na cidade de Tramelan, no cantão de Bernese), no início do século XX, produziu uma série de relógios de bolso em forma de leque, conhecidos como Sector. Aparentemente, eram muito difíceis de produzir e peritos modernos sugerem que menos de 2.000 foram realmente construídos. Apesar da escassez de exemplares, o mostrador de sector entrou no léxico da relojoaria e este relógio tornou-se o modelo para tudo o que se seguiu.
Qual foi o primeiro relógio de pulso com marcação do tempo através de ponteiros retrógrados, é uma questão difícil de responder. A Wittnauer afirma que foi a primeira a fazê-lo, com o modelo mais tarde apelidado de Futurama. Porém este relógio compartilha um módulo retrógrado genérico com o modelo Secteur da LIP, exibido na Feira de Basel em 1973. É possível estes modelos tenham sido apresentados no mesmo ano, tendo sido ambos os "primeiros", mas algumas fontes afirmam que a Wittnauer já tinha discretamente lançado o seu modelo em 1972.
Wittnauer Futurama
LIP Secteur (à esquerda).
Embora esta complicação devesse ser designada por mostrador sector, muitas fontes contemporâneas se referiam a ela como mostrador linear. Talvez na época já ninguém se lembra-se da designação usada pelos modelos da Record dos inícios de 1900. Claramente, a LIP e a Le Phare empregaram o termo apropriado, mas não é certo que a Wittnauer o tenha feito.
Os relógios de pulso com ponteiros retrógrados surgiram na década de 1970, poucos anos depois da moda dos relógios digitais mecânicos e na mesma altura em que os relógios LED multi-segmento revolucionavam o design externo. Vivia-se um período de grande criatividade, mas também de sérios desafios para os relógios mecânicos. Em meados da década de 1970, era geralmente aceite que o futuro passaria pelos relógios electrónicos e de quartzo e a única maneira de os movimentos mecânicos sobreviverem era o de inovar de outras maneiras.
Como já foi referido, os primeiros modelos usavam um módulo retrógrado genérico, de um inventor desconhecido, que era depois montado sobre um movimento qualquer. No modelo Futurama, a Wittnauer usou o calibre ETA 2784, mais tarde renomeado como calibre 11 SEC (um movimento totalmente novo, com uma alternância de 28.800 A/h e ajuste rápido da hora). Enquanto a LIP optou por usar um movimento de qualidade inferior o "Duromat" INT7525, produzido pela Durowe (Deutsche UhrenRohWerke).
ETA 2784 com um módulo retrógrado.
Os Anos de 1970
Le Phare e o Sectora Original
Foi neste contexto que a Le Phare introduziu o modelo Sectora, apresentado na Feira de Basel em 1974.
Ao contrário dos seus concorrentes, o Sectora apresenta o mostrador rodado 90º, com o marcador das 12:00 na posição de topo como num relógio convencional, conferindo-lhe uma maior legibilidade. Outra característica deste mostrador é o uso de um arco de 150º, em contraponto com os tradicionais 120º utilizado pela maioria dos relógios Sector.
Modelo Sectora da Le Phare
O módulo retrógrado usado neste modelo era produzido pela firma Dubois-Dépraz, sendo montado no calibre 7046 da Peseux. Um calibre de qualidade superior, com complicação de data e usado por marcas de prestígio como a Girard-Perregaux.
Este modelo não era exclusivo da Le Phare, sendo igualmente comercializado pela Sultana (uma empresa irmã da Le Phare), bem como pela Marvin e Difor.
Em 1976 a Le Phare decidiu redesenhar o Sectora, mantendo contudo o movimento 7046 da Peseux. Nascia o modelo "Space Helmet".
Space Helmet da Le Phare.
O Sectora/Space Helmet teve várias dificuldades para se estabelecer no mercado e as vendas da Le Phare sofreram perdas substanciais, à medida que os relógios de quartzo iam conquistando rapidamente quota de mercado.
A década de 1970 ficou caracterizada por uma explosão de novos designs de caixas, com os diversos fabricantes de relógios mecânicos a adoptaram esta mesma estratégia, na tentativa de contrariar a invasão dos relógios digitais electrónicos e de quartzo.
Não se sabe por quanto tempo o Sectora permaneceu no mercado, mas poucos anos depois do seu lançamento já todos os relógios da Le Phare eram de quartzo. E em 1981 a marca seria retirada do mercado em favor de uma nova marca, a Jean d'Eve.
Os Anos de 1980
Jean d'Eve e o Sectora de Quartzo
Em 1981 a Le Phare-Sultana SA retira a marca Le Phare do mercado e introduz uma nova marca com um nome mais sofisticado, a Jean d'Eve. Esta nova marca apostava na produção de relógios de quartzo de design arrojado. O seu primeiro sucesso de vendas foi o modelo Spinnaker, um relógio desportivo inspirado na temática náutica, que veio permitir o retorno da empresa à produção de modelos complicados.
Modelo Spinnaker da Jean d'Eve.
Em 1984 a Jean d'Eve faz renascer o modelo Sectora, desta vez com uma caixa assimétrica em forma de concha, um design nunca visto até então. Este novo Sectora usa um movimento de quartzo ao qual foi adicionado um módulo retrógrado, talvez o mesmo utilizado pela Wittnauer e LIP na década anterior. Em 1987 iria surgir um modelo mais compacto a pensar nas senhoras.
Versão masculina do Sectora de 1984 (direita) e a
feminina introduzida em 1987 (esquerda).
Este novo Sectora, apesar de provavelmente não ter tido o mesmo sucesso que o Spinnaker, constituiu um marco importante na industria relojoeira. Sendo amplamente aclamado como um exemplo do retorno das complicações, há muito ausentes nos relógios de quartzo. De certo modo, o uso de ponteiros retrógrados para assinalar a passagem do tempo tornar-se-ia na imagem de marca da emergente alta relojoaria da época.
Geral Genta, Daniel Roth, Roger Dubuis e Frank Muller estabeleceram a sua reputação como mestres relojoeiros graças aos "modelos retrógrados" que produziram nos inícios da década de 1990. Em 1996 Jaeger-LeCoultre introduz o "Reverso Chronographe Retrograde" e em 1999 o "Gran'Sport Chronograph". A Chronoswiss também usaria esta complicação em 1998, no seu modelo "Delphis Retrograde" e no mesmo ano Jaquet Droz também o faria. A partir da década de 2000 os modelos retrógrados estariam amplamente difundidos por diversas marcas.
O Ano de 1993
Jean d'Eve Quarta
Em 1993 era apresentada na Feira de Basel, com toda a pompa e circunstância, a nova inovação da Jean d'Eve, o Quarta.
Enquanto os seus antecessores usavam um único mostrador, com escala ao longo de um sector circular de 120 ou 150º, o Quarta usava quatro quadrantes e quatro ponteiros para indicar as horas.
O Quarta na versão de 1993.
A versão de 2001 iria perder os
numerais árabes 12, 3, 6 e 9 do mostrador.
Ao longo do século XXI, tanto o Sectora como o Quarta tiveram várias reedições (quer em quartzo como mecânicos), estando ainda hoje em produção.
Sectora, modelo de 2001.
Sectora, modelo de 2005.
Sectora, modelo de 2006.
Sectora, modelo de 2017.
Quarta, modelo de 2008.
Obrigado pela paciência.
Locutus sum
Sansoni7, Tempus fugit, JPP, pedrosenarego e Nuno Graça gostam desta mensagem
- Duca749
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Re: Os "irmãos" Jean d'Eve, Sectora e Quarta
Seg 12 Abr 2021, 09:13
Ufa que este post custou a chegar ao fim mas valeu a pena aliás vale sempre a pena aprender sobre (e falo por mim) relógios e estilos desconhecidos.
Não são a minha praia mas não deixam de ser interessantes. parabéns
Não são a minha praia mas não deixam de ser interessantes. parabéns
- floijdt
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Re: Os "irmãos" Jean d'Eve, Sectora e Quarta
Seg 12 Abr 2021, 15:35
Relógios insólitos.
- Tempus fugit
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Re: Os "irmãos" Jean d'Eve, Sectora e Quarta
Seg 12 Abr 2021, 20:15
Esse Quarta é liiiindo!!! E essa pulseira . Não fazia ideia do que raio era um teju....
Fiquei a conhecer esta marca por causa de ti, mas já vi que tem modelos muito interessantes.
Fiquei a conhecer esta marca por causa de ti, mas já vi que tem modelos muito interessantes.
- JPP
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Re: Os "irmãos" Jean d'Eve, Sectora e Quarta
Seg 12 Abr 2021, 20:52
Muito giros, parabéns pelas deliciosas aquisições e obrigado pela interessante história, desconhecia essas marcas e modelos e a história dos retrógrados! Gostei muito de ler! Eu tinha um Timex "Inteligent Quartz", (que se perdeu na ida para o Japão ) que tinha duas dessas funções retrógradas, mas confesso que nunca lhes tinha ligado muito! Agora entendo porque a Timex chama aquele relógio de "Inteligent"!
E também não fazia ideia do que era um Teju!
E também não fazia ideia do que era um Teju!
- SquareWatch
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Re: Os "irmãos" Jean d'Eve, Sectora e Quarta
Seg 12 Abr 2021, 22:11
Obrigado, ainda bem que gostaram .
Pus lá em cima um sinal a indicar uma nota de rodapé e depois acabei por não a escrever. É o que dá andar a redigir tópicos às 2h da madrugada .
Então cá vai:
[1] Dependendo do valor do seu ângulo central, um sector pode ser classificado como metades (180º), quadrantes (90º), oitantes (45º) ou simplesmente sector (120º ou 150º).
Pus lá em cima um sinal a indicar uma nota de rodapé e depois acabei por não a escrever. É o que dá andar a redigir tópicos às 2h da madrugada .
Então cá vai:
[1] Dependendo do valor do seu ângulo central, um sector pode ser classificado como metades (180º), quadrantes (90º), oitantes (45º) ou simplesmente sector (120º ou 150º).
Sector circular destacado a verde
- - - xXx - - -
Teju
São um grupo de animais oriundos do Novo Mundo com algumas das espécies a serem consideradas
como sendo os maiores lagartos das Américas.
Sansoni7 e JPP gostam desta mensagem
- pedrosenarego
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Data de inscrição : 05/11/2019
Re: Os "irmãos" Jean d'Eve, Sectora e Quarta
Qui 22 Abr 2021, 23:27
obrigado por este belo artigo e por respeitar a natureza
abraço
abraço
SquareWatch gosta desta mensagem
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