"Manufatura" e algum extremismo técnico em artigos de luxo....

No munda da relojoaria tradicional (e também em outras áreas do luxo de alto nível),o conceito de “manufatura” é híper valorizado e até levado ao extremo em algumas situações na minha humilde opinião. Sempre o entendi, como algo de “exclusivismo”, mas até por “deformação profissional” (mecânica e na área da robótica) sei que uma uma peça fabricada/montada à mão nunca é mais rigorosa ou garantida que uma realizada por maquina ou robot. Nenhuma mão humana tem a tranquilidade e rigor de uma robot de ultima geração. Mas entendo que uma maquina pode vomitar centenas de peças por dia e todas exatamente iguais , mas em contrapartida a mão humana apenas  fabrica poucas e nunca conseguirá que 2 sejam exatamente iguais e isso é diferenciador.
Faz-me lembrar um churrasco numa noite de campismo de juventude.. Se acendermos as brasas fazendo fogo como o Sapiens , chocando com duas pedras ou rodando uma madeira entre as mãos o frango depois saberá melhor ou mais apetitoso caso  tivéssemos utilizado um isqueiro a gás!

Apeteceu- me desabafar, depois de ver o extremismo tomado abaixo pela Greubel Forsey:
Uma peça única, com 95% dos componentes fabricados manualmente, apenas com ferramentas manuais e sem recurso a nenhuma fonte de energia elétrica ou fóssil!!!! Até espiral do balanço foi realizada conformando a "mola cabelo" manualmente…………..



Nota: Créditos da imagem de uma revista da especialidade.

Realmente isso é a beleza/exclusividade e luxo da manufatura levadas ao limite!

Olá, boa ideia para tópico

Acho que estás a confundir ligeiramente dois conceitos distintos.
A 'manufactura' na relojoaria, nos dias de hoje, refere-se aos relógios/mecanismos produzidos inteiramente in-house — de concepção, desenvolvimento e fabricação própria ao invés de encomendado a terceiros por exemplo. (E julgo que foi uma maneira das grandes casas relojoeiras se reinventarem apos a crise dos anos 70/80, mudando por completo a percepção duma industria nos olhos dos que estão por fora...)

Neste exemplo especifico da Grubel Forsey, alem de eles fazerem tudo in-house habitualmente (se não estou em erro), esse modelo foi feito inteiramente com processos manuais tradicionais!

Mais, acho que manufactura pode até ser feito manualmente, no entanto não o é obrigatoriamente. Já são muitas as marcas que porduzem movimentos de manufactura e podes ter a certeza que são fabricados por robots às centenas! Se me faço entender...

Já agora, fabricação manual há uns quantos relojoeiros que o fazem, ou por tradição ou por brio e mestria de técnica... Embora raros são os casos que me atraem pela estética — mais pelo simples facto de terem sido criados por maos humanas — este é muito bonito!

Houve claramente uma evolução do significado de "manufactrura" e acredito que hoje esteja hoje mais associado ao "in-house" do que ao "hand made" , que creio foi como nasceu. Foi um bom esclarecimento da tua parte.  
Quanto é manufactura produzida por máquinas, claro que entendo até porque conheço esse mundo (numa área diferente da relojoaria), mas são aquelas "omissões e faltas de rigor" muitas vezes toleradas e desvalorizadas, à semelhança do que acontece um pouco também com o Swiss Made, apesar deste ter regras teoricamente bem mais rígidas.

Embora raros são os casos que me atraem pela estética — mais pelo simples facto de terem sido criados por maos humanas

Penso que a questão é precisamente esta: quem aprecia produtos feitos à mão valoriza sobretudo o facto de serem feitos de forma tradicional/artesanal, e não necessariamente terem uma qualidade final superior - embora normalmente até tenham, mas isso depende mais da gama de preços do produto e do controlo de qualidade, creio eu.

É pegar num Seiko SKX e num Submariner. Ambos bons produtos - mas o SKX terá provavelmente o "chapter dial" desalinhado com o mostrador, já o Rolex só com uma boa lupa se conseguirá identificar alguma imperfeição estética - e isto acontece porque a Rolex tem um controlo de qualidade ridiculamente exigente. Daí que um custe 20 vezes mais do que outro.

Isto é aplicável noutras áreas dos artigos "de luxo" - uma indústria semelhante é a do calçado, onde os melhores sapatos são caros por serem feitos à mão mas sobretudo porque os materiais, a atenção ao detalhe e o controlo de qualidade são muito superiores.

Sim mas também não é tão linear, pois, não é possivel montar/fabricar os milhares de Submariner que saiem para o mercado por "hand made" e sem ajuda de boas máquinas/robots..

Bom input também @nmfl, mas podes ter a certeza que qualquer relogio produzido manualmente vai ser caro.

bladerunner68 escreveu:Sim mas também não é tão linear, pois,  não é possível montar/fabricar os milhares de Submariner que saiem para o mercado por "hand made" e sem ajuda de boas máquinas/robots..

Curiosamente, tanto a Seiko como a Rolex são das poucas marcas que se podem chamar de verdadeiras manufacturas pois produzem tudo in-house. A Seiko até os óleos etc o faz...
No entanto, à exceção dos modelos verdadeiramente mais exclusivos da Seiko, nenhuma os produz manualmente.

Tenho sérias duvidas que a maior parte dos relógios da Patek, por exemplo, sejam produzidos à mão. O mais certo é serem acabados manualmente — o tal 'finishing' em inglês (polimentos, perlages, anglage, gravações etc...). Mas são uma manufactura e que ao mesmo tempo também tem (e sempre teve) muitos calibres produzidos por outrem. Entao como ficamos?  

Produção verdadeiramente manual (serrote e martelo em mão) e são extremamente poucos.
Produção manual com recurso a maquinaria já é mais comum.

Para complemento deste tópico, sugiro uma passagem de olhos pela pagina da AHCI - Académie Horlogère des Créateurs Indépendants https://www.ahci.ch/ para ficar a conhecer alguns dos 30 relojoeiros que ali pertencem. Há uns quantos que ainda fazem relógios quase todos manualmente.

Também vejam este pequeno clip filmado no atelier do Philippe Dufour que dá para ver alguns dos processos:
https://www.hodinkee.com/articles/the-road-to-basel-episode-2-inside-the-atelier-of-the-legendary-philippe-dufour


Ou se tiverem mais tempo, este do jovem japones Masahiro Kikuno que é simplesmente incrivel.