Fashion Watches: To be or not to be

Já estou para criar este tópico há algum tempo, mas com a discussão recente no fórum sobre um relógio Camel Trophy, resolvi pegar no tema dos "fashion watches".

A dúvida que me assola é: afinal o que é um "fashion watch"?

Vamos tentar várias teses:

• Um "fashion watch" é um relógio de uma marca que não tem tradição horológica. Aqui ficamos à mercê daquilo que é tradição. Quantos anos é preciso para ser uma marca "tradicional"? Uma marca como a Akrivia que tem 5 anos (e para mim faz alguns do mais fantásticos relógios da actualidade) faz "fashion watches"? Tentemos novamente, agora pela negativa.
  
  
• Um não "fashion watch" é um relógio de uma marca que tem como principal negócio a horologia como, por exemplo, a Omega, a Seiko, a Rolex, a Christopher Ward, a <inserir a vossa micromarca favorita>, a Daniel Wellington. Daniel quem?      Mais uma tentativa.
  
  
• Um não "fashion watch" é um relógio de uma marca que denota especial ênfase na qualidade dos seus relógios. Deixa espaço a alguma interpretação/especulação sobre o que é a qualidade. Imaginemos que essa qualidade é directamente proporcional ao movimento que é utilizado. Um Fossil com um STP 1-11 deixa de ser um "fashion watch"? E os Ralph Lauren com máquinas Jaeger-LeCoultre? Tentemos outra perspectiva.
  
  
• Um "fashion watch" é um relógio de uma marca cujo principal negócio não é a relojoaria (uma marca de roupa como a Lacoste, de malas como a Coach ou de joalheria como a Cartier). Esperem Cartier? Os tipos que desenharam o Santos? Vamos tentar novamente.
  
  
• Um "fashion watch" é um relógio de uma marca cujo principal negócio não é a relojoaria e que não tem tradição horológica. OK, salvámos a Cartier, mas se olharmos para os últimos anos temos vindo a observar marcas como a Montblanc (via Minerva), Chanel ou Porsche Design a desenvolverem os seus próprios calibres in-house. Devemos continuar a olhar para elas como fabricantes de "fashion watches"?
  

Não tenho resposta para uma definição exacta do termo, nem sei se alguma vez a terei e se a mesma seja particularmente relevante, mas gostava de saber o que é que vocês pensam sobre o tema.

O que é para vocês um "fashion watch"?

Eu sempre associei o termo "fashion watch" aos relógios que as marcas de vestuário vendem, ex. Gant, Timberland, Armani, Boss, Diesel, Michael Kors etc

Questão difícil de responder e cujo conceito não é preto no branco, haverá pontos em que todos concordarão na definição de um fashion watch, e outros pontos em que cada qual molda ou adapta ao seu conhecimento/experiência.

Vou apenas destacar aquelas características em que parece haver um pouco de consenso geral:
- Preocupação estética superior à preocupação com a máquina em si
- Associação a marcas de vestuário e acessórios. A joalharia está noutro campeonato porque depende igualmente da manufatura com qualidade e atenção ao detalhe
- Preço geralmente acima do que as marcas horológicas oferecem no mesmo posicionamento

Boa questão @Tempus fugit, se bem que difícil e talvez não muito relevante! Pois, como bem diz o @outoftime, a definição pode variar legitimamente de pessoa para pessoa.

Para mim ponho as coisas desta forma:

- Em regra são marcas de vestuário e acessórios que, acessoriamente, também lançam uns relógios. Algumas até os levam a sério, mas só no que respeita ao marketing dirigido às massas e ao lucro da sua venda massificada. E podem até meter nos relógios uns movimentos com qualidade, mas isso não chega.

Com esta definição ficamos descansados quanto a marcas como a Cartier, pois leva os relógios muito a sério e tem enorme tradição horológica com mais de um século. E de facto a joalharia não se pode considerar muito afastada da relojoaria, pela qualidade dos materiais e atenção ao design e detalhes. E ficamos descansados com a Casio, que tem de ser levada muito a sério! E relativamente a marcas que, pela forma como surgiram e pela qualidade dos materiais e design, não as meto no mesmo barco, como é o caso da Caterpillar! A Camel da qual se falou ontem, está um pouco acima dos Fashion Watches também, quanto a mim.

Outra alternativa de definição: fashion watches são todas aquelas marcas de relógios que não têm credibilidade horológica e que vendem em massa os seus relógios, em lojas não especializadas. O que é credibilidade horólogica? Seriedade e qualidade com que está no mercado. O que é seriedade? Pois, não fica fácil!

Como bem dizes @JPP, a definição do que é um "fashion watch" vai sempre variar de pessoa para pessoa e ao sabor do que vai acontecendo no mercado. Hoje em dia olho para um Chanel ou um Montblanc de uma forma completamente diferente da que via há uns anos atrás.

Gosto particularmente da primeira premissa do @outoftime: "Preocupação estética superior à preocupação com a máquina em si".

Tempus fugit escreveu:
Gosto particularmente da primeira premissa do @outoftime: "Preocupação estética superior à preocupação com a máquina em si".

Essa premissa vai de encontro ao que tenho observado em algumas marcas que encaixo nesta categoria, ainda que não se aplique à totalidade de marcas que gravitam nesse mercado.

Grande parte dos fashion watches vende pela apelação (sentido figurado) que é feita em termos estéticos, em bom português "mais olhos que barriga"

E não é que muitas vezes conseguem ser esteticamente mais atraentes que muitos modelos produzidos por casas conceituadas?

Enquanto uma marca reconhecida na horologia faz concessões estéticas para encaixar determinado modelo numa gama de preço e assim tentar oferecer o melhor "value for money", a marca que produz o fashion watch faz concessão nos materiais e mecanismo, privilegiando a função estética para apelar à compra de impulso.

Acho que é precisamente neste ponto que reside a linha que separa estes dois conceitos.

P.S: Tenho dois fashion watches digitais que valem apenas por essa premissa estética. Não sinto necessidade de me auto-flagelar ou até exorcizar-me porque ambos foram oferecidos Dificilmente gastaria dinheiro nestes relógios, percebendo minimamente da poda

Sim @Tempus fugit, eu também gosto, mas acho que falta qualquer coisa nessa premissa, porque a estética de um relógio da marca Diesel ou Police, por exemplo, deixa muito a desejar, fazem uns tremendos abortos de relógios, a par de alguns engraçados: a preocupação dos Fahion Watches é precisamente agradar ao que, como o nome diz, está na moda para as massas consumidoras, que é uma moda totalmente diferente daquela para os apreciadores de relógios.

@outoftime, continuando a concordar contigo, eu continuaria a acrescentar "moda das massas consumodoras", que é diferente da "moda dos apreciadores de relógios"!

Eu gastei dinheiro em três ou quatro, em tempos que não são assim tão passados, mas que hoje me parecem séculos

JPP escreveu:Sim @Tempus fugit, eu também gosto, mas acho que falta qualquer coisa nessa premissa, porque a estética de um relógio da marca Diesel ou Police, por exemplo, deixa muito a desejar, fazem uns tremendos abortos de relógios, a par de alguns engraçados: a preocupação dos Fahion Watches é precisamente agradar ao que, como o nome diz, está na moda para as massas consumidoras, que é uma moda totalmente diferente daquela para os apreciadores de relógios.

Esses abortos da Diesel com quase 50mm de caixa venderam e vendem que nem paezinhos quentes Vá-se lá perceber porquê

Mas nas marcas de horologia também assistimos a esse fenómeno ainda que menos acentuado e com preços noutro campeonato. A Hublot é um bom exemplo disso, faz o típico relógio para jogador da bola ou novo-rico que quer ostentar e mostrar que atingiu determinado patamar de conforto financeiro. A engenharia dos Hublot está a anos luz das fashion brands, mas a maioria dos modelos vende pela premissa estética e da marca, e que na minha perspetiva acaba por canibalizar os modelos mais sóbrios que poderiam despertar o interesse dos apreciadores de relógios. Dá a sensação que quem compra um modelo mais sóbrio da Hublot fá-lo porque não tem possibilidades de adquirir o mais extravagante e exótico.

Não sei o que acha da minha perspetiva do consumidor da Hublot, mas do que vou vendo no fórum e pela net fora, não é uma marca que agrade à generalidade dos apreciadores de relógios.

Não sou fã da Hublot e concordo que é um bocado relógio de jogador de futebol, aliás, é uma marca intimamente ligada aos clubes, só em Portugal existem Hublots feitos para o FCP e SLB, que eu saiba e já vi edições feitas para outros clubes de futebol europeus. São bonitos de ver, mas não corria atrás de nenhum! Por isso, é normal que seja a primeira escolha de um jogador de futebol. Mas também a Panerai não é lá muito bem vista entre os coleccionadores e os apreciadores mais puristas, eu mesmo, de início, não ligava nenhuma, e agora gosto bastante, um Luminor é um dos meus grails! E eu tive em casa durante vários dias um Luminor Marina GMT, de um amigo, que deixei ir por um preço irrisório, se fosse hoje nem pensar, ficava eu com ele!

Também não acho piada nenhuma aos Hublot, principalmente os tipo "skeleton", outra marca que na minha opinião também tem relógios horríveis é a Franck Muller, a nível técnico não sei pq não tenho conhecimentos para saber se são bons e inovadores ou não, mas a nível estético, que é a primeira coisa em que reparo, não gosto.

Eu já achei alguma piada, na altura em que ainda gastei dinheiro em relógios menos recomendáveis, mas hoje em dia já não compraria nenhum. E ouvi dizer que o Franck Muller anda de rastos, com dívidas enormes e com grandes problemas de vendas. Ele vem muito a Portugal e foi um conhecido de um conhecido dele que me disse.

Bela discussão que por aqui vai. Irremediavelmente iremos sempre bater no subjectivo. O que é feio, o que é bonito, o que é mais ou menos inovador.

Não acho piada nenhuma aos Hublot, Franck Muller e Richard Mille, tal como abomino os Daniel Wellington ou os Diesel "relógio de cozinha". Embora reconheça valor técnico naquilo que os primeiros fazem, para mim são "high-end fashion watches".

Mas lá está, a fronteira é muito ténue. Olho para um Urwerk, HYT ou MB&F de outra forma. São marcas que apostam em grande na imagem (e muitas vezes na disrupção daquilo que entendemos como um relógio), mas que por trás têm uma técnica fenomenal.

Confesso que tive um Diesel daqueles tipo "Batatinha" há anos atrás (dos tais "abortos"), quando ainda não sabia o que era um relógio e só queria algo brilhante no pulso. Foram 90 euros mal gastos porque só durou uns 3 anos e era desconfortável de usar. Mas foi "formação". Também tive um "Police", um "Timberland" e um "Guess" mais bonitinhos e ergonómicos mas que vendi porque já não os usava nem tinham qualquer valor ao nível pessoal, e um Lorus (submarca Seiko quer também incluo nos "fashion watches") que me foi oferecido mas que vendi por ser enorme para o meu pulso e muito "matacão".

Ainda tenho um "Emporio Armani" que foi prenda de noivado e, por esse motivo, não vendo (caso contrário, venderia, porque é demasiado grande para o meu pulso, pesado e desconfortável de usar).

Para mim, fashion watches são relógios do mercado de consumo que se compra e usa apenas pelo lado estético, sem incluir critérios de qualidade, função e tradição da marca. Normalmente são fabricados na China com materiais e movimentos baratos, pouco ou nenhum controlo de qualidade e paga-se basicamente a marca. Outras características frequentes são os cromados "baratos", os tamanhos de caixa grandes/gigantes e combinações de cores muito óbvias - tudo aspetos pensados para apelar ao "comprador de vitrina" e não ao entusiasta da relojoaria.

Não incluo a alta relojoaria "fashion" (os Frank Mullers, etc) nesta categoria porque aí tratam-se de peças de luxo e de alta qualidade, independentemente da tradição. Têm valor mais como jóia do que pela tradição.

A minha experiência com fashion watches é francamente negativa. Não valem o dinheiro que custam em termos de qualidade e fiabilidade e têm péssimo valor de revenda. É ridículo pagar 200 ou 300 euros por um relógio que custa 20 ou 30 euros a produzir, mas muita gente cai nesse erro e eu fui um deles.

O problema é que estas marcas gastam a maioria do orçamento no marketing e depois muito pouco no fabrico e controlo de qualidade. Marcas como Timex ou Casio acabam por oferecer muito mais por menos.

Revejo-me nas tuas palavras @nmfl e eu também tive esse percurso até perceber o que era um relógio, que confesso ter acontecido no momento em que me inscrevi neste Fórum e comecei a aprender convosco, portanto, já um bocado tarde, mas sempre a tempo. Antes disso ficou-me um Gant, que por acaso até é bonitinho, um Swiss Military Hanowa, que não é bem um fashion watch mas é uma marca sem tradição, história, nem grande qualidade, um Tissot edição MotoGP 2016, de quartz, grande, que hoje nunca compraria, e ainda um Akribos XXIV, que me custou uns 80 euros, comprada pelo Showroomprive. E por falar nisso, alguém conhece esta marca? É que acho que se trata de uma micro brand, só dedicada a relógios, a peça é agradável à vista e parece ter materiais razoáveis, mas presumo que tenha uma máquina de baixa qualidade e a lógica deles anda pelo marketing paralelo ao Showroomprive ...

A Akribos XXIV é uma marca da TWI, uma empresa americana que também tem a August Steiner e a Joshua & Sons. São relógios com movimentos chineses baratuchos e com design indistinguível de outras dezenas de marcas por lá fabricadas em grande escala.

@Tempus fugit, tu és uma enciclopédia, hehehe! Boa, obrigado, o que dizes bate certo com a ideia que eu tinha de ser uma marca baratucha e as outras que referes estão sempre no Showroomprive, coisas baratas e realmente sem interesse. Se bem que o meu até é muito bonitinho, mas pronto, sei o que tenho!